A ilha dos bretões está em meio à sua maior tempestade política depois da Segunda Guerra Mundial
O jornalista Rui Tavares, do jornal português O Público, nos fez recordar que ao tempo da formação demorada da comunidade europeia de nações (UE), iniciada com o acordo do “carvão e do aço” entre a França e a Alemanha, nos idos dos anos de 1950 do século passado, que a entrada do Reino Unido sempre foi malvista e rechaçada pelos países europeus continentais.
Em 1973, finalmente, o Reino Unido conseguiu entrar na Comunidade Econômica Europeia (CEE), o que muito ajudou a resgatá-lo da decadência econômica em que se encontrava, pela perda definitiva das colônias que o sustentavam.
Os pedidos de ingresso feitos por Londres foram negados por anos. O jornal britânico The Guardian registra que a participação da ilha na UE era considerada incompatível, devido ao estado de sua economia estagnada (antes de Margaret Thatcher). O sistema dos “cinco olhos”, ou seja, a colaboração entre o Reino Unido, Irlanda do Norte, Austrália, Nova Zelândia e Canadá – força comum – não era suficiente ainda, embora englobando o País de Gales e a Escócia (partes do Reino Unido).
O Reino Unido feito à força e diplomacia – complexa e conflituosa – gerou, por séculos, atentados dos irlandeses esbulhados pelos ingleses protestantes e ricos. Os irlandeses aqui referidos são os do Norte. A Irlanda é outro país (a do Sul). O Reino Unido, mediante plebiscito (52% ante 48%), resolveu divorciar-se da Europa Continental (UE). O orgulho dos habitantes mais velhos, cientes ainda do tempo colonial em que a Índia era a joia da coroa e tinha a mais poderosa esquadra, atrás apenas dos EUA e da Rússia, já plena de paquistaneses, hindus e africanos anglófonos em seu território, sendo a cidade londrina o centro financeiro da Europa, levou-a a sair da União Europeia de nações.
A economia britânica, porém, vive em declínio constante e até onde era forte (centro financeiro) vem perdendo para Frankfurt, na Alemanha. Um novo plebiscito, agora, daria vitória à integração (acho que teria necessariamente que ocorrer). Cerca de 80% dos jovens até 35 anos querem fazer parte da UE, ao contrário de velhos orgulhosos (55% são a favor do Brexit); mas os jovens é que vão viver no futuro e têm o direito de definir a nação deles.
Atualmente, o divórcio da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte), já que a Irlanda do Sul, em constante progresso, pertence à UE, exigirá postos alfandegários. Sua economia, a inglesa, vem encostada à da França, a segunda da UE, depois da Alemanha, na liderança.
O que está ocorrendo chega a ser hilário. Os ingleses não queriam receber normas feitas em Bruxelas (UE), embora pudessem indicar seus deputados. O Parlamento, a grande instituição britânica, com seu orgulho, influiu muito para que houvesse o Brexit. Agora, não se sabe se aceita receber ordens de Bruxelas ou não, como um porta-aviões indeciso parado no Canal da Mancha (o qual não impediu a invasão romana, a normanda que a formou, e dos negros pobres que receberam ao tempo do colonialismo extremado). Um Parlamento Europeu, nem pensar. Então, aguente! E não se queixe! A chance de voltar à UE é nula, no momento.
Dir-se-á que a Inglaterra iniciou, impoluta, a Era Industrial. Isso é inegável, mas por três razões que existiam, sem que fizesse esforço algum. A uma, um exército de miseráveis que atulhavam Londres e Manchester (um exército esquálido de mão de obra), efeito do êxodo rural dos “sem terras”, expulsos pelos lordes que passaram a utilizar máquinas agrícolas em suas propriedades de vetustos castelos medievais; a duas, as primeiras máquinas a vapor (outros países também as tinham, como a França e cidades italianas); e; a três, minas de hulha a céu aberto, ou seja, carvão à vontade e perto, o que lhe dava vantagem enorme. As máquinas a vapor só precisavam de carvão e água à mão. O algodão eles não compravam, tiravam da Índia, do Egito, das Antilhas, das colônias africanas e até dos EUA (no início).
Recuso-me a ver o primado inglês na era industrial, como virtude a singulariza-lá entre as outras nações, como, a Alemanha, a Holanda e a Bélgica. Houve, sim, mão de obra barata, crianças trabalhando até 14 horas por dia, o que levou Marx a falar em “mais-valia”; indústria têxtil (todo mundo precisava se vestir); matéria-prima decorrente da colonização e, mais, o carvão ao alcance da mão. Hoje, tudo mudou, inclusive as grandes populações das nações que serão grandes pátrias, com grandes territórios (EUA, China, Rússia, Canadá, Índia, Brasil) dentro de 30 anos, ou seja, na metade do século 21.
Diz-se na Inglaterra que os reis reinam, figuras decorativas, mas não governam. Na França, foi o contrário, reis não há; ao contrário, mataram a nobreza e a realeza para instalar a República. O Parlamento britânico tudo pode. Thereza May foi indicada por ele para finalizar o Brexit. A ilha dos bretões (os britânicos) está em meio à sua maior tempestade política depois da Segunda Guerra Mundial. A primeira-ministra está com água até o pescoço.
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