Estamos numa fase crítica da economia mundial. As três economias avançadas %u2013 os Estados Unidos, a Europa e o Japão, 70% da economia global %u2013 estão tomando o rumo da estagnação.
Como não perceber o fim de um ciclo histórico e o início de outro, nesses primórdios do século 20. Analisemos os fatos. Em 1945, inicia-se a descolonização como tramou Roosevelt, o genial presidente dos EUA, o melhor de todos, preso a sua cadeira de rodas. A França, a Bélgica, a Holanda, a Inglaterra, Portugal, em menor escala a Alemanha, a Itália, a Espanha e o Império Turco, num espaço de 25 anos, perderam todos os seus domínios na África e na Ásia, exploradas impiedosamente. O EUA tomaram o lugar do Velho Continente no mundo com a política do “open door”, de expansão e a movimentação de suas empresas – capitalizadas com a guerra – mundo afora (único país que não foi palco de operações bélicas). É a sua afirmação como superpotência econômica, política e militar.
Mas tinha uma pedra no caminho. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), saída dos escombros da guerra a sacudir a bandeira vermelha da revolução. A Europa e a Ásia Centrais se fazem bolcheviques. No extremo Oriente, a Mongólia, a China Continental e logo meia Coreia e meio Vietnã. Na América, Cuba. É a “Guerra Fria”. Os EUA criam a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e permitem o soerguimento da Alemanha e do Japão, seus competidores históricos, que se tornam a 3ª e 2ª economias do mundo, respectivamente, a ressurgirem da destruição econômica que os EUA lhes infligiram de maneira calculada.
Nesse meio termo, a URSS desaba e a China adota o socialismo de mercado. De 1982 a 2011, apenas 29 anos, torna-se a 2ª economia do mundo, com um vigor de assustar (US$ 5,6 trilhões de PIB, ante os US$ 15,2 trilhões dos EUA). O epicentro econômico desloca-se para a Ásia amarela, malaia e hindú, onde vivem quase dois terços da humanidade. É tão difícil perceber o óbvio? Em que lugar do mundo é possível crescer, investir, construir, produzir, trocar e consumir mais senão nessa região? Não apenas isso. A Turquia, o Brasil, a Rússia, a Índia, a África do Sul (grandes territórios, populações e recursos naturais) inverteram os termos de troca, atraíram capitais, e com baixos salários se puseram a crescer.
Na contramão da história, EUA, Europa Ocidental e Japão, golpeados pela especulação imobiliária, a débâcle financeira dos derivativos e os altos níveis de vida, entram em estagnação e estão a caminho da estagflação (parados e com inflação) além da perda de empregos e de renda, em razão da emissão maciça de dinheiro sem lastro, seja euro seja dólar, para rolar as monumentais dívidas soberanas. Os juros estão zerados, não pode haver política monetária. Nem novas emissões de títulos. Só há política fiscal, apertar os cintos (recessão). Ouçamos Heiner Flassbeck, economista da ONU e ex-ministro das Finanças da Alemanha, em entrevista recente: “Estamos numa fase crítica da economia mundial. As três economias avançadas – os Estados Unidos, a Europa e o Japão – estão tomando o rumo da estagnação. 70% da economia global na direção da estagnação. É que os salários não estão aumentando nessas economias. E aí a demanda doméstica não cresce. Os últimos dados sobre mercado de trabalho nos EUA, na semana passada, deixam claro que não há nenhuma alta nas horas trabalhadas e nos salários. Isso é um desastre!”
As políticas de estímulo para sair da crise não deram resultado? “Novos estudos nos EUA mostram que mais de 90% da renda está indo para os lucros. Quer dizer, o governo estimula a economia, aumenta o déficit, o dinheiro vai para os lucros e desaparece em algum lugar nos mercados de capitais. A única solução na Alemanha ou nos EUA é taxar mais as companhias, cortar os lucros do setor privado e aumentar os salários. Mas é evidente que não há nenhuma vontade política para isso. Então caminhamos para o desastre”. Já nos emergentes fala-se de bolha dos salários. “Sim, é o outro lado da moeda. Na China, os salários estão subindo um pouco e no Brasil bem mais do que a produtividade. Esses países têm que conter o salário nominal, para não terem choques inflacionários mais tarde. Essa é a situação da economia mundial: restrição no lado monetário nos emergentes e corrida para a estagnação nos avançados”.
Os emergentes têm fôlego para continuar sustentando a expansão mundial? “Eles continuarão sendo o motor, mas não é suficiente, são 30% da economia mundial. Estou muito pessimista!” O Brasil, portanto, baixe os juros, não cresça salários acima da produtividade e deixe a iniciativa privada construir a Nação. Continuemos o agronegócio, a exploração mineral e façamos carros e casas, puxando as cadeias produtivas, o emprego, a renda e o consumo. Mais à frente os países centrais trarão seus capitais para produzir e vender aqui. É a sina do capital que nunca teve pátria.
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