Programa de governo de qualquer candidato é dever primário, sob três pontos de vista: o ético, o político e o partidário.
Em querer polemizar com os cientistas políticos – quem sou eu –, penso que os programas de governo são imprescindíveis para a evolução da nossa democracia. Tem-se dito que para a maioria das pessoas os programas, são claros: “Dilma quer manter e Serra mudar o que Lula está fazendo”. São cabíveis alguns temperamentos. Primeiro, se não é importante, por que Dilma trocou o seu programa, já rubricado, por outro, excluindo o controle da imprensa, a tese do aborto livre, a invasão de propriedades, sem ter o proprietário direito à ação de reintegração de posse? Algum valor deve ter. Segundo, como explicar a eleição tão improvável de Barack Obama – por vários motivos, inclusive o étnico –, se não fora o seu programa? A saber: sair do Iraque, resolver com rapidez a questão afegã, a nova política de imigração, o programa oficial de saúde para 36 milhões de desprotegidos, uma política internacional com base no multilateralismo e no diálogo (diplomacia em vez de big stick), mudar a matriz energética, fugindo da dependência de países hostis, porém, produtores de petróleo, regulação dos mercados financeiros desregulados pelos republicanos, respeito aos direitos civis, banimento da tortura como método para obter informações etc.
Recentemente, na Inglaterra, o Partido Conservador teve que conversar com o Liberal 10 dias, a ajustar os respectivos programas de governo para formarem o gabinete de coalizão que hoje governa o Reino Unido. Cito esses dois casos porque são democracias maduras. É no rumo delas que devemos ir. Por que não se interpela Dilma a se pronunciar sobre as declarações dos presos políticos cubanos que foram soltos pela pressão internacional sobre o que Lula disse a respeito deles, comparando-os a presos comuns de São Paulo? Eu gostaria de ouvir o que Dilma responderia. Ao tempo em que o PT era oposição, FHC foi interpelado várias vezes sobre se seria ateu. Como a religião hoje está implicada na política, tanto a católica como a evangélica, é de se perguntar se Dilma é ou não ateia; se é a favor do aborto; do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); da invasão de propriedade; do ativismo sindicalista; das amizades com ditadores liberticidas da América do Sul e da África. Lula abriu embaixadas, mais de 60, em lugares inexpressivos, como a Coreia do Norte. Dilma concorda com essa política e lhe dará continuidade? Ao cabo eles não são iguais?
Corre o Brasil enquete em que três fatos se evidenciaram: 91% dos eleitores já sabem que Dilma é a candidata de Lula; 82% da população aprova o governo de Lula, mas, última evidência, 66% desaprovam a política dele relativamente à saúde. Quero dizer que ninguém vai votar em peso assim a favor ou contra Dilma pelo simples fato de ser a candidata de Lula (66% da população vai querer saber o que cada um tem a dizer sobre saúde, porque não estão satisfeitos com Lula neste item). Há maior evidência de que a eleição não será plebiscitária nem no Brasil, nem tampouco em Minas? A uma, porque nem Lula nem Aécio são candidatos. A duas, porque o programa de governo de qualquer candidato é dever primário, sob três pontos de vista: o ético, o político e o partidário. Veja-se a expressividade do nome partido. Significa a não unanimidade, o diverso, o diferente, o dividido, e representa dada parcela do pensamento político. A sociedade tem que tomar partido, deve ser contra ou a favor desse ou daquele. O partido, em princípio, opõe-se ao personalismo, marca da politicalha que assola a América Latina, daí os Lulas, os Evos, os Chávez. Qualquer cientista político que propale a desimportância dos programas de governo (para que depois das eleições o eleito seja cobrado) está laborando contra o aperfeiçoamento dos costumes políticos. Curiosamente, a maioria é lulista (petistas nem tanto, porque mantêm com o endeusado presidente uma relação de amor e ódio).
Por último, a emergência da nova classe média urbana e rural (médios proprietários) caminha para o centro, para o capitalismo e a livre empresa. Perguntem aos da classe C e D e até E se são a favor da invasão de suas casas, terrenos e coisas, por mais humildes que sejam, e se querem o desaparecimento dos patrões que os empregam e lhes pagam os salários. Eles querem casa, carro, emprego, diversão, saúde, educação, segurança. O candidato que os convencer ganhará as eleições. Quando os debates ocorrerem, fatos hoje negligenciados virão à tona, como, por exemplo, a destruição da fita que comprova a conversa da ex-secretária da Receita Federal com a chefe da Casa Civil de Lula, Dilma, que negou o referido encontro de favorecimento a José Sarney. Mentiras não combinam com eleições, por mais estranho que pareça. Vale a sabedoria popular: “Quem faz um cesto faz um cento”.
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