Quanto mais importamos, maior concorrência e menor inflação (absorção da oferta mundial).
A camisa de força da economia brasileira é o produto interno potencial da cartilha dos monetaristas. Basta o país crescer, para os agourentos alardearem que a demanda vai superar o Produto Interno Bruto (PIB, ou seja, a oferta de bens e serviços existentes no país) e trazer inflação. Olvidam os bens e serviços importáveis que na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e na China vagam sem compradores, a provocar deflação (excesso de oferta). No mais, a capacidade instalada em julho estava em 82% e os investimentos (capital fixo)aumentaram para 20% do PIB. O pensamento estruturalista diria que importar insumos e bens de capital baratos (investimento em capital fixo) seria uma boa política, porque o real está forte. E mesmo bens de uso e consumo cabem no conceito.
Quanto mais importamos, maior concorrência e menor inflação (absorção da oferta mundial). A queda dos juros viria em seguida para baratear o custo da dívida pública e o crédito, tanto para investimento quanto para consumo internos (crescimento). Não é essa a lógica dos monetaristas. O negócio deles é feito samba de uma nota só. Subiu o consumo? Tomem na fuça juros elevados. Os rentistas adoram e a economia se retrai, porque os atos de consumir e investir internamente tornam-se dispendiosos. Go and stop tem sido a sina maldita, mas aceita de nossa economia, dominada pelos banqueiros e pelos monetaristas financistas, mesmo depois da queda dos seus modelos teóricos nas crises japonesa e agora a norte-americana e a europeia. Lula, que não entende de economia, agarrou-se no presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Ele e o PT pragmático. Leia-se Antonio Palocci e companhia.
Ocorre, depois da crise do subprime, que Lula e Dilma meteram na cabeça algo que sempre lhes foi muito caro: o Estado grande, providencialista, assistencialista, metido na economia. A combinação de estatismo com monetarismo vai nos custar caro, basta ver o mundo de dinheiro para o tal do pré-sal, que nem sabemos ser viável técnica e economicamente no horizonte de uma década e meia (2010 a 2025). A economia do carbono está no início do fim (junto com o pré-sal). Estamos sendo sensatos neste item? Esse é um debate inevitável. É de investimento, vê-se, que almejo falar. Quem deve ser o agente dele em nosso país? O Estado e os particulares é a resposta, mas cada qual em seu lugar. Para logo uma assertiva: o Estado brasileiro está quebrado – em que pese a alta carga tributária –, porque é péssimo gestor; gasta muito e gasta mal.
Para se ter uma ideia, este ano, a União gastará do seu Tesouro em investimentos 10% do que pagará de juros de sua dívida pública. Nunca menos que R$ 180 bilhões. Quem embolsa essa quantia? Os que mamam na Selic. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não é consistente. Os brasileiros precisam adquirir o hábito de ler as contas públicas e a imprensa a comentá-las. É preciso que se diga com senso como se financiará o crescimento do país. As privatizações e as parcerias público-privadas (PPPs) são as tábuas de salvação. Será isso ou o caos. Veja-se o caso dos aeroportos. Não temos mais voos porque inexiste capacidade instalada. O mesmo se diga de portos, usinas elétricas, estradas de rodagem e de ferro, navios, hospitais, penitenciárias, serviços de seguridade social, de saúde, educação, do poder de polícia e de políticas de segurança, forças armadas e patrulhamento das fronteiras, do espaço aéreo e marítimo. Nessas áreas, o Estado brasileiro é de péssima categoria, perdulário e ineficiente.
Determina a Constituição, no artigo 173: “Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei”. Nota-se aí a clara opção pela iniciativa privada. Pode-se deduzir, com legitimidade, que é preciso privatizar o que for possível: produção, transmissão e distribuição de energia elétrica e de combustíveis. Exploração de energias alternativas e de petróleo e gás, portos, estradas de ferro e de rodagem, aeroportos, hidrovias e transportes. Ao Estado reserve-se, mas em regime de concorrência com os particulares – a saúde, a educação, a segurança e a previdência (os fundos de pensão, inclusive dos funcionários públicos, são preferíveis à gorducha Previdência oficial, a cobrar muito e a devolver migalhas, de fora parte o empreguismo e as fraudes). Ao modelo lulista, sindical, empreguista, monetarista, estatista, ineficiente e tributeiro, devemos opor outro projeto de Estado ou o crescimento perderá sustentabilidade. Os debates são necessários. A consciência nacional os reclama.
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