Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
Pátria, família e propriedade sempre foi o “slogan”, assentado, desde a guerra de “Canudos” na Bahia, no imaginário do brasileiro
A segunda economia das três Américas (PIB bruto), pois o Canadá, pouco populacionado, vem em terceiro com o México na 4º posição, é um país com desigualdades sociais.
No Brasil, atualmente, temos um ministro da Fazenda emponderado, mas inepto e agora humilhado por Ciro Nogueira, expoente do “Centrão”.
Delfim Netto, quase centenário, gosta de fazer ironias com o governo atual, sempre foi um crítico ferino. Para ele, o Ministério da Fazenda, corretor de títulos e valores imobiliários, deve fazer um curso de macroeconomia, segundo dizem!
Deve mesmo. Basta dizer que já fomos – embora com nossas desigualdades sociais – a sétima economia do mundo. Hoje somo a 12ª.
Não precisamos ir longe. O PIB do Brasil, sob Bolsonaro e Guedes, passou a ser igual ao de 2014. Estamos andando, mas é para trás.
Delfim deu sobrevida ao período militar após 1964. Foi um economista genial. Agora é diferente. Bolsonaro não é candidato militar. É capitão da reserva, saído do Exército por ato de indisciplina e não tem apoio nas Forças Armadas. É um ex-deputado que passou metade de vida no Congresso Nacional (26 anos) sempre apoiado pelas milícias do Rio de Janeiro e pelos sargentos das policias militares dos estados, com um ministro da Fazenda bisonho.
Pátria, família e propriedade sempre foi o “slogan”, assentado, desde a guerra de “canudos” na Bahia, no imaginário do brasileiro. É incrível a capacidade de enganar a classe média brasileira com ideias de anticorrupção e os caboclos, escravos e mulatas (conúbio do “senhorzinho” branco e as negras) formando 65% da população brasileira.
Nossa colonização difere da americana, destino de ingleses pobres, galeses, escoceses, irlandeses, polacos, italianos e alemães dos 38 principados germânicos. Para cá vieram portugueses de um Estado estafado de recursos, pouca gente embora competente, pois iniciaram a primeira globalização (colonial).
Para cá vieram os mais pobres dispostos a se acasalarem com as índias formosas e as escravas trazidas por cristãos e muçulmanos da África negra. Consta até que um mulato de salvador fez fortuna puxando de “cabinda” as negras mais belas para o prazer de senhores de engenho de Pernambuco, Paraíba, São Vicente, Maranhão, Grão-Pará e Bahia (daí as mulatas do Brasil tão celebradas pelo imaginário popular e cultural).
Na América do Norte houve transplante de famílias inteiras. Nos EUA não houve a miscigenação, o que faz do Brasil um país “mulato” e “de cabeça chata” com população equivalente à América Espanhola inteira ou quase. Os “protestantes” e “anglicanos” eram ensinados a ler a “Bíblia”. Os católicos só ensinavam a ler os ricos e os poderosos, para manter o povo ouvindo padres e nobres.
Graças ao Brasil, o português é a língua mais falada do mundo (Portugal, Brasil, Guiné, Madeira e suas ilhas, Moçambique, Gôa, Gamão, Diú, Angola e Timor Leste) formando um total de 340 milhões de falantes, ótimo para a literatura. O lusitano hoje com cerca de 340 milhões de falantes naturais, pela ordem, está atrás do mandarim (China), do ordú (Índia em parte), do inglês – somente os EUA possuem 340 milhões de habitantes – e do espanhol.
Nos separamos da Espanha em meados de 1.300 D.C., na famosa batalha de Aljubarrota. Os lusitanos, em desvantagem de um para três, derrotaram a Espanha e sua fina-flor, dando vez à construção do mosteiro da batalha no local da contenda.
Logo depois, depois da dinastia da Borgonha, a primeira, surgiu a de Avis, a mais exitosa (basta dizer que o único país que na Península Ibérica escapou do domínio de Castela e Leão, por força de D. João de Avis, foi Portugal).
Nossa “descoberta” deu-se na última transição dinástica, no rumo da Casa Orleans e Bragança. Fato é que a colonização se fez tardia e começou à volta de 1.545 D.C., com a minoria branca dominando a terra dos índios e depois trazendo negros para trabalhar.
No Nordeste, matamos o índio e emprenhamos as índias. Basta ver o brasileiro mais empobrecido dessas regiões para constatar essa verdade. Lado outro emprenhamos as negras. Essa gente ia nascendo sem “eira nem beira”, e por isso, até hoje somos um país desigual, bastando ler nossos historiadores.
Não cuidamos de dar terras e trabalho para particulares e trazer colonos. Ao revés de fábricas, fizemos igrejas. Somente Salvador tem 365.
Não foi uma boa colonização, o que explica nossa história. Nos salvamos pelas entradas e bandeiras, pela descoberta de ouro em Minas e em Goiás Velho e finalmente pelo café e, logo depois, pela “substituição das importações” devido às guerras na Europa, forçando a industrialização do país, seguida por correntes migratórias vindas da Europa: galegos, espanhóis, poloneses, alemães e italianos em alta escala.
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