Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
A atividade econômica deu novos sinais de perda de fôlego em agosto, apesar do impulso no setor de serviços produzido pela vacinação
Com Bolsonaro e pela velocidade dos acontecimentos o Brasil quase não cresce, ao contrário do que ocorre nos EUA, na China, na Alemanha e na França, onde existem lideranças, planejamento e interação. Estamos nos desindustrializando ao invés de entrar na era industrial 4 e 5G.
A atividade econômica deu novos sinais de perda de fôlego em agosto, apesar do impulso no setor de serviços produzido pela vacinação e o relaxamento no distanciamento social. Cada vez mais, o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) se defronta com os limites do lado da oferta.
O índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) divulgado registra uma leve contração em agosto, de 0,15%, ante julho. Também houve revisões nos dados estatísticos dos dois meses anteriores, para pior.
O desempenho até o primeiro trimestre parecia promissor. Mas, a partir de então, passou a decepcionar. Hoje, pelo IBC-Br, a economia brasileira está 0,2% abaixo do nível de fevereiro de 2020, quando foi atingida pela pandemia.
A distância, no entanto, é maior caso o indicador seja comparado com a trajetória de crescimento de longo prazo da economia. As estimativas do Banco Central e do mercado financeiro indicam que a recuperação cíclica se completará apenas em fins de 2022. Duvido. Acho otimismo de torcida de futebol.
O setor de serviços se destaca como a principal força de crescimento. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada na quinta-feira, registra uma expansão de 16,7% na comparação com agosto de 2020. O desempenho se deve sobretudo à reabertura da economia. É o caso dos serviços prestados às famílias, cuja taxa de expansão mensal acelerou de 2% em julho para 4,1 % em agosto. De abril para cá, o avanço salta aos olhos, com 50,4%. A vacinação tem incentivado a população a consumir mais desses serviços.
Ainda assim, esse segmento de serviços segue 17,4% abaixo dos níveis de antes da pandemia. Embora negativo, esse número representa um alento: há espaço para a continuidade da expansão dos serviços, conforme prossiga a tendência de relaxamento do distanciamento social.
Já a indústria apresentou uma queda de 0,7% em agosto. Esse foi o setor que reagiu primeiro, depois de atingido pela pandemia, mas ultimamente perdeu ímpeto. O Brasil tem performance espetacular apenas no agronegócio, típico de país grande e rural.
A crise de energia também pesa na atividade industrial, além da alta nos preços internacionais de combustíveis. Do lado da demanda, a reorientação do consumo aos serviços tende a reduzir a procura por bens industriais. Restrições no lado da oferta poderão se mostrar um problema, como o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) em um patamar historicamente alto.
A queda de 2,5% nas vendas do comércio em agosto é um outro dado desfavorável. A taxa de desemprego segue elevada e, com as altas de juros básicos, tende a cair mais devagar.
A renda real da população, por outro lado, está sendo corroída pela inflação de dois dígitos. Os financiamentos às famílias tendem a perder um pouco do vigor devido ao aperto monetário e ao alto nível de endividamento. Além disso, caiu o nível de confiança dos consumidores. A maré está baixando.
Em suma, vários motores importantes da recuperação cíclica da economia estão perdendo força. Depois de um crescimento que, por algum tempo, acreditou-se que poderia passar de 5% neste ano, caminhamos para uma taxa de expansão menor do que 2%.
Nesse ritmo, a economia volta a convergir para a sua velha tendência de expansão de longo prazo, sempre constrangida pelo limitado PIB potencial. O Brasil precisa recuperar o foco em uma agenda ambiciosa e consistente o suficiente para ampliar os investimentos e a produtividade.
Mas o atual governo do Brasil, pelo viés liberal ultrapassado, abdicou totalmente do planejamento. Para o governo, planejamento é o mesmo – erro grosseiro – que economia planificada, típica de países socialistas.
A pergunta a fazer é muito simples e somente os boçais não sabem respondê-la. Quais países significativos são socialistas hoje em suas respectivas bases econômicas? São apenas dois: Cuba e Coreia do Norte.
A Rússia e a China são capitalistas até mais não poder. Na Rússia, fala-se muito das oligarcas de Putin, que se apossaram de tudo que o esforço do povo construiu e hoje vivem em Moscou, São Petersburgo e Londres, como milionários.
A China não permite que seus milionários, como Jack Ma, ofertem exemplos de gastança e poder. A sabedoria chinesa pede e obriga compromisso e comedimento. Este, sim é um país que preserva valores!
As eleições gerais se aproximam e o povo brasileiro em nada melhorou o seu rendimento per capita e a desigualdade. A educação tampouco decolou.
A mania agora do bolsonarismo coronelístico, característica da “velha política”, é distribuir dinheiro para se reeleger. E eu acreditei nesse demagogo quando nele votei, o que não farei jamais.
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