Avaliação negativa em 53%

Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ.

A tendência de deterioração de imagem ocorre ao mesmo tempo em que as preocupações com saúde cedem lugar para os receios econômicos.

Ricardo Mendonça nos informa com dados que a avaliação negativa do governo Jair Bolsonaro subiu mais cinco pontos em relação ao mês passado e alcançou o recorde de 53% na série de pesquisas da Quaest.

O aumento ocorre em linha com um notável crescimento da preocupação com a economia, que hoje é vista como o principal problema do país por 44% dos entrevistados. No capítulo eleitoral da sondagem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém liderança isolada. Em agosto, 45% faziam juízo negativo da gestão Bolsonaro. Em setembro, a taxa subiu para 48%. Agora, primeira vez, fica acima dos 50%. No sentido oposto, as avaliações positivas recuam de 27% para 26% e, agora, para 24%.

A tendência de deterioração de imagem ocorre ao mesmo tempo em que as preocupações com saúde cedem lugar para os receios econômicos.

Dois meses atrás, citações à pandemia superavam economia no ranking dos principais problemas por 36% a 32%. Isso mudou em setembro, quando economia superou saúde ou pandemia pela primeira vez (41% a 28%). E se intensificou agora (44% a 24%).

Chama a atenção o aumento da imagem negativa do governo entre eleitores evangélicos, um dos mais importantes segmentos de apoio a Bolsonaro. Em agosto, 32% dos que se dizem evangélicos tinham imagem negativa do presidente. Agora, são 42%.

Tendência parecida ocorre entre eleitores que afirmam ter votado em Bolsonaro no segundo turno de 2018. Só 15% deles julgavam o desempenho do presidente como negativo em agosto. Hoje, são 26%.

No capítulo eleitoral, Lula mantém liderança isolada em todas as simulações. Desta vez, a empresa testou oito diferentes cenários de primeiro turno, sempre com quatro nomes em cada disputa. Lula, Bolsonaro e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) foram colocados em todos os testes.

Na posição do quarto concorrente, os entrevistadores foram apresentando figuras citadas como possíveis candidatos de uma terceira via.

Sempre bem à frente dos rivais, o desempenho de Lula variou de 43%, em seu pior cenário, a 46%, no melhor. Bolsonaro foi de 24% a 27%. Ciro, de 9% a 12%.

O apresentador de TV José Luiz Datena (PSL) foi quem apresentou o melhor desempenho entre os demais testados. Alcançou 11% ante 43% de Lula, 24% para Bolsonaro e 10% para Ciro.

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (sem partido) marcou 10% quando seu nome foi colocado como opção. João Doria (PSDB), governador de São Paulo, teve 6%, o mesmo desempenho do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM). O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), obteve 4%, taxa idêntica à da empresária Luiza Trajano (sem partido). O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), marcou 3%. E o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), 2%. No teste de segundo turno, Lula derrota Bolsonaro por 53% a 29%. Contra Ciro Gomes, o petista vence por 49% a 26%.

A Quaest fez 2.048 entrevistas face a face entre os dias 30 de setembro e 3 de outubro. A margem de erro da sondagem é de 2,2 pontos percentuais.

Somos um país estranho. Em vez de campanha nacional de creches e educação humanística, voltada à paz e às boas maneiras, o nosso presidente ergue acima de sua cabeça de valentão e motociclista vestido de preto uma criança fardada com uma arma na mão. Que país é este?

É muito estranha a classe média brasileira não fazer a comparação de Bolsonaro com Juscelino. Este último, sob intenso ataques do então partido direitista, a UDN (Juscelino era do PSD), criou o Brasil industrializado de hoje e mesmo contra levantes militares, como os de Aragaças e Jacareacanga, a todos anistiou. Seu sorriso e bom humor contagiavam o Brasil. Em vez do ódio, a simpatia e a boa educação. E gostava de dançar. Foi um fenômeno político: prefeito, governador e presidente numa largada.

Juscelino fez 50 anos em 5, dando ênfase ao binômio Energia e Transportes, uma visão de estadista de um país então desconectado em suas vastas regiões. Tenho-o como o melhor presidente do país, superando Getúlio Vargas, um habilidoso político do Rio Grande do Sul com sua tradição caudilhesca. Adornou-se da Revolução de 1930 e tornou-se ditador. Foi removido, mas voltou pelo voto direto como presidente da República. Acossado pelo grande tribuno político Carlos Lacerda, da UDN, teve a honradez do suicídio político tal como Sêneca em Roma, dramatizando a política e traumatizando o país.

Foi um homem que literalmente deu a vida pelo Brasil. Seu gesto afastou o golpismo militar daquela época reivindicado pela UDN.

Salve, salve, sem Getúlio Vargas não haveria Juscelino Kubitschek de Oliveira, ou mais comumente, JK. Todas as honras a Diamantina, em Minas Gerais.

É um absurdo que a capital mineira não tenha erguido num de seus pontos mais vistos ou mais altos uma estátua do grande estadista que foi JK.

O governo Bolsonaro, ao contrário, não tem obras de monta. Inaugura ponte, viaduto, três quilômetros de estrada e vive “a la godaça” nas casas presidenciais que JK construiu, puxando o Brasil para o Planalto Central, hoje um continente plantado.

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