Haverá um dia em que a nação, ora passiva e condescendente, se levantará contra a impiedade do vizir, para quem o choro dos parentes pelos mortos da COVID não passa de “mimimi”
Brasil nos leva direto à história de Portugal, que nos antecede em 300 anos, talvez um pouco mais, dependendo do enfoque.
Para mim, Portugal ganha identidade a partir de Batalha de Aljubarrota, festejada com a construção do Mosteiro da Batalha. Nunca mais os espanhóis importunaram os do Condado Portucalense, a expandir-se para o Sul, tomando o Al Graib (Algarve) dos mouros.
Houve nessa pequena nação da Península Ibérica um príncipe, Sebastião, de fé pura no amor divino, a lançar-se contra os mouros com esquadras náuticas e canhões, e que jamais voltou das tórridas areias de Marrocos. Desse príncipe feito rei de abrasado coração nasceu na pátria-mãe uma grande saudade, que virou fé em sua volta, o sebastianismo!
Outros paralelos existem. Certa feita, na Itália, um movimento forte existiu comandado por um juiz de grande coragem, a operação “mãos limpas”, levando ao cárcere centenas de políticos, empresários e até magistrados com um passivo político de mortes, atentados e suicídios, atingindo até presidentes e primeiros-ministros da República Italiana.
Infelizmente, também lá os juízes perderam a revanche dos sucessores supostamente honestos da velha ordem.
Aqui na terra brasilis, um jovem juiz audaz levou à condenação centenas de salafrários plantados no governo e nas estatais em comboio com empresários de alto coturno. Um Sebastião de toga redivivo no além-mar.
Ademais, no afã de fazer uma assepsia política no país, aceitou participar de um governo em começo de mandato e ganhador atípico de uma eleição em que seu prócer se disse o campeão da moralidade, acrisolando a nação tomada de desânimo e desilusão. E mais não disse, quieto no hospital, vítima de uma facada até hoje não esclarecida, dada por um amental que teria ido além do combinado, como dizem alguns.
Mas entramos em mais uma ilusão. O vencedor do pleito logo mostrou-se um tiranoide inculto e mandão. Juscelino fez seu plano de metas e as cumpriu. Esse de agora limitou-se a um tal de Guedes, chamado de “Posto Ipiranga”, o dono das soluções.
Passados dois anos e três meses, o PIB já recuou 7,8% e todo santo dia ouvimos do “capo” ameaças e bazófias. Diante da pandemia, minimizou-a e durante a pandemia nenhuma providência tomou que fosse efetiva (que diferença de Biden, que semelhança com Trump).
Para V. Exa, no começo, era uma “gripezinha” e depois o choro dos parentes de 285 mil mortos um “mimimi”, sem falar que se deleita, ele e seus filhos, a xingar as mães dos desafetos ou então os manda tomar em certo orifício de nosso corpo.
E tudo isso aos brados em rede nacional de televisão. (Não duvide, V.Exa., que outro tanto lhe desejamos.)
Mas o destino é vário e nos surpreende. O STF, com acerto jurídico e o atraso que lhe é peculiar, vem de julgar um habeas corpus anulando todos os processos contra outro polêmico ex-presidente, tornando-o elegível. E esse é carismático, sabe falar com e para o povo, indo além da voz mandona dos sargentos nas marchas de pelotaços submissos.
É inegável que tem outro “galo no terreiro”, conhecido de norte a sul, bem apropriado a um povo ainda às voltas com as escuridões da miséria e da falta estrutural de educação.
Viveremos, em breve, uma profunda derrocada; talvez venhamos a ser, proporcionalmente, o povo que mais perdeu vidas na guerra contra a COVID.
De volta ao jovem juiz e sua ânsia de justiça, todos sabem que se tornou ministro da Justiça. Enquanto pôde, condenou um presidente e com altivez não se curvou a outro, o atual, que queria controlar a Polícia Federal em favor do filho Flávio.
E, logo em seguida, exonerou-se ao invés de se envolver com as rachadinhas. Foi o único que escapou das “degolas” do tiranete.
Um Moro febril, como Sebastião, não morreu, condenou um ex-vizir e enfrentou outro que quis ir além de sua guarda de eunucos e interferir na Polícia Federal da nação soberana.
No Brasil, filho de Portugal, não houve outro Alcácer-Quibir onde Sebastião pereceu.
Haverá um dia em que a nação, ora passiva e condescendente, se levantará contra a impiedade do vizir, para quem o choro dos parentes pelos mortos da COVID não passa de “mimimi”. Então, o hoje silente Moro, mais meditado, retomará o seu destino político, para gáudio da nação agradecida.
A nação brasileira pode ser forte, mas não suportará tanto desemprego, fome, falta de metas, um governo que faz campanha eleitoral ao invés de governar e, por fim, a desesperança.
Um Deus de amor e justiça nos socorra e que as forças vivas da nação se levantem para repor o país no caminho do crescimento e da diminuição das desigualdades.
Como no livro de juízes, precisamos de um líder que, além de honesto e discreto, tenha no imo do coração um afeto pelos patrícios mais humildes, a sofrer com a pandemia da COVID-19.
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