A confiança sumiu, virou mais inflação e juros mais altos. Logo veremos a dívida da República chegar aos 100% do PIB em 2022.
Victor Resende e Anais Fernandes analisam: “O choque rápido e intenso nos preços de commodities e a taxa de câmbio ainda em nível bastante depreciada fizeram com que a ‘folga’ existente nas expectativas de inflação para este ano diminuísse em pouco tempo – e o mercado passou a se preocupar cada vez mais com as pressões inflacionárias. O debate agora se concentra em quando o ciclo de normalização da política monetária terá início – se em março ou maio –, no momento em que a curva de juros já embute em seus preços 69% de chance de uma elevação de 0,25 ponto percentual em março e 31% de possibilidade de alta de 0,50 ponto, com a Selic a 4,5% até o fim do ano, em um ciclo que deve ter início em maio”.
Diante de uma inflação que ficou acima do centro da meta em 2020 e com as expectativas de inflação em 3,6% no fim deste ano, “não há necessidade de um grau de estímulo extraordinário”, como sinalizado pelo próprio BC na ata da reunião de janeiro do Copom, afirma Carvalho. O economista avalia que “a barra para subir os juros em março é um pouco mais alta”, mas não descarta esse cenário por completo.
Em seu cenário básico, porém, a Truxt contempla elevações de 0,50 ponto a partir de maio, que levariam a Selic a 4,5% até o fim do ano. “Imagino que o BC pense que fará menos do que isso, mas acho que eles entregarão um pouco mais”, diz Carvalho.
A evolução das expectativas de inflação no mercado mostra uma aceleração gradual das projeções para este ano. Em 7 de dezembro, a mediana das estimativas do mercado para o IPCA no fim deste ano estava em 3,34% e, no Boletim Focus divulgado ontem, o ponto médio apontava para a inflação em 3,60%, com a projeção para o juro básico em 3,50% no fim do ano. Nos cálculos de Luis Laudisio, trader de renda fixa da Renascença, a curva de juros precifica a Selic em torno de 5,25% em 2021.
Há cerca de um mês, a Garde Asset enxergava o IPCA ao redor de 3% em 2021. Agora, a projeção da gestora está em 3,7%, praticamente no centro da meta para o ano. Já em relação à taxa básica de juros, a expectativa da casa é que o processo de normalização monetária tenha início já em março, com quatro aumentos de 0,50 ponto, que levarão a Selic a 4% – nível que será mantido até o fim do ano.
“Um mês atrás, a gente enxergava que o BC estava bem tranquilo, porque havia uma folga até a meta. Agora ela se foi. Todo o grau de liberdade que você tinha dessa folga para a meta foi consumido. Qualquer choque adicional, se o petróleo sair de US$ 60 para US$ 70 por barril, por exemplo, vai gerar pressão e a inflação, provavelmente, vai ficar acima da meta”, diz o economista-chefe da Garde, Daniel Weeks. “Perdemos o conforto de estar com essa folga.”
O economista acredita que se não houver uma alta Selic já em março, como está precificado no mercado, o câmbio pode reagir mal e a curva de juros deve ganhar um pouco mais de inclinação, além da possibilidade de haver um aumento da inflação implícita.
Para Rocha, um processo de normalização se faz necessário, tendo em vista as pressões inflacionárias recentes e a desvalorização cambial. “A projeção de inflação está bem próxima à meta e o juro real ainda está negativo. O BC deve procurar normalizar esse cenário. Com o passar do tempo, se as expectativas de inflação se deslocarem para níveis acima de 4%, o BC pode elevar ainda mais os juros e de forma mais gradual”, diz Loes. O BC, no entanto, pode ser “atropelado pelos fatos”, afirma. Se a pressão inflacionária for maior, a autoridade monetária poderia começar a normalizar os juros em março, reconhece.
Uma sinalização para esse cenário deve vir dos próximos resultados dos núcleos de inflação. “O que você fizer agora em março ou maio não tem impacto no que vai acontecer na corcova de inflação do segundo trimestre, mas tem impacto em 2022. Se o BC vir condições piores, pode ter risco de subir até mais do que os 4% até o fim do ano”, diz. Nesse caso, “adeus, Bolsonaro”.
Ora, ora, todo esse disse me disse do mercado financeiro não está valendo mais nada. Depois da brutal intervenção estatal nos preços dos derivados do petróleo, explodiu o apreço dos agentes do setor financeiro pelo governo “supostamente liberal”. Fosse nos EUA, o impeachment se daria de imediato.
Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, após o estupro da Petrobras (mesma política intervencionista de Dilma), trataram de livrar os preços da energia elétrica de outra intervenção mobilizando os votos do Poder Legislativo para privatizar (prioridade absoluta) o sistema elétrico e, pois, a Eletrobras. Foi um deus nos acuda.
É pecado mortal um liberal mexer nos preços da energia fóssil (petróleo e carvão) ou elétrica, base de todos os preços da economia. Não tem lógica. O Brasil não é um botequim e nem tampouco um lupanar. A confiança sumiu, virou mais inflação e juros mais altos. Logo veremos a dívida da República chegar aos 100% do PIB em 2022.
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