As universidades tendem a se distanciar da hostilidade do governo Trump em relação aos chineses e outros estrangeiros, mormente os latino-americanos
Colho de revista especializada a análise que trago à luz dos leitores: a politicada Casa Branca e a mídia conservadora, o nacionalismo branco e a xenofobia, estão em alta os EUA. Entre março e maio, houve mais de 1.900 incidentes de discriminação antiasiática nos EUA, segundo o Asian Pacific Policy and Planning Council, que atribuiu o aumento à “disseminação de informações enganosas e ao preconceito de autoridades do governo contra os chineses”.
Em julho, 73% dos adultos americanos disseram ter uma visão desfavorável da China, um aumento de 26% desde 2018, segundo pesquisa do Pew Research Center. Cerca de um em cada quatro americanos também descreveu a China como inimiga dos EUA – quase o dobro em relação a quando essa pergunta foi feita em 2012. Os americanos são menos politizados que os europeus.
Nos últimos dois meses, o governo dos EUA anunciou urna série de políticas visando os chineses e outros trabalhadores do setor de alta tecnologia nascidos fora dos EUA. Essas incluem a proibição de estudantes e acadêmicos chineses terem laços com os militares americanos e a restrição de entrada no país de detentores do H-1 B e outros vistos de trabalho. Ainda não acordou o Sr. Trump que a China produz tecnologia própria, está na frente para o 5G.
Em julho, o governo Trump implementou uma política, que teve vida curta, exigindo que os estudantes estrangeiros se transferissem ou deixassem o país se suas escolas passassem a ministrar aulas somente pela internet por causa da pandemia de COVID-19.
A lei, logo anulada pelos juízes após oito ações federais e a oposição de centenas de universidades, apavorou os estudantes estrangeiros, que se viram no meio da disputa política sobre as aulas presenciais. As universidades estavam sendo informadas de que o governo não as queria voltadas à China (é um Hitler).
“A educação é uma indústria enorme, um grande negócio para todos os países”, disse Vivien Liang, diretora do Franklin International Education Group.
Graças a uma política favorável, o Reino Unido vem atraindo o interesse dos estudantes chineses. No início do ano, Londres restabeleceu o programa de trabalho (PSW) que oferece um visto de dois anos para estudantes estrangeiros trabalharem no país após a graduação. A suspensão do programa em 2012 levou à queda de estudantes estrangeiros no país nos últimos oito anos, especialmente da Índia.
“No momento, as notícias que vêm do Reino Unido são bem mais positivas que as dos EUA. Mesmo para os estudantes não chineses, parece estar havendo uma mudança de interesse dos EUA para outros países nos últimos quatro anos. “O sudeste da Ásia tem visto seus estudantes se desviarem para a Austrália, Canadá, Reino Unido, falantes de inglês, uma língua fácil.”
Com uma onda de políticas de imigração nada amigáveis, “as pessoas não vão para lá porque já não têm mais uma grande opinião sobre os EUA”, diz Shaun Rein, da consultoria China Market Research Group de Xangai. “O soft power se foi.”
O ranking da THE para 2021, divulgado nesta semana, mostra que, embora as universidades americanas continuem no topo, as “instituições que não estão entre as 20 maiores estão dando sinais de declínio”. Enquanto isso, a Universidade Tsinghua, da China, tornou-se a primeira asiática a entrar no ranking das 20 melhores e galvaniza o Sudeste Asiático.
Economicamente, também, os efeitos da queda de estudantes estrangeiros não estão limitados ao ensino superior. Os estudantes estrangeiros em faculdades e universidades americanas contribuíram com US$ 41 bilhões e geraram 58.290 empregos nos EUA durante o ano letivo de 2018/19. Segundo o grupo setorial Nafsa, as cidades universitárias, muitas com mercados imobiliários que giram em torno do fornecimento de acomodações para estudantes estrangeiros, serão duramente atingidas daqui para a frente, à medida que a Ásia suplanta a União Europeia.
Mesmo assim, os nomes das instituições americanas e a profusão de empregos na área de tecnologia continuam trabalhando a favor dos EUA. E as universidades tendem a se distanciar da hostilidade do governo Trump em relação aos chineses e outros estrangeiros, mormente os latino-americanos.
A Universidade Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) entraram com uma ação contra a política do governo Trump proibindo os estudantes estrangeiros de ter aulas on-line, e centenas de faculdades e mais de 70 associações de ensino superior entraram como amicus curiae em apoio a Harvard e ao MIT. Uma quase revolta das universidades contra Trump.
Tom Zeng, da CUNY, disse que sua escola mantém contato constante com estudantes estrangeiros como ele, ajudando-os a conseguir assistência jurídica e de alojamento. “Eu me arrependi de vir para os EUA, mas não há como negar que o país tem boas pessoas (algumas).”
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