O misticismo por um político salvador é a pior praga política
Existe no Brasil algo diabólico, uma falsidade demoníaca, aliada ao alheiamento do povo, que atinge alvos bem antigos de nosso mal-estar político. Após meditar sobre o tema sobrou-me a conclusão de que esse estado d’alma merece um nome que o expresse com rigor: misticismo por um político salvador. É a pior praga política esse pseudomoralizante desejo. O país que dele precisa já se perdeu e se debate no obscurantismo. Bolsonaro entrou nessa brecha. Nunca trabalhou na vida, é um oportunista extraordinário. Nascido no Vale da Ribeira, a mais atrasada região de São Paulo, estudou gratuitamente desde o curso primário em grupos e escolas públicas. Delas saiu para a Escola Militar, em São Paulo. Segue-se a vida castrense até o posto de tenente, aposentando-se por indisciplina com a patente de capitão…
Sua vida política tem início no Rio, na Zona Oeste – para os contingentes militar e policial – desde a Barra da Tijuca, Jacaré, Marechal Deodoro, Jacarepaguá até Campo Grande, Santa Cruz e a Baixada Fluminense, nos cafundós da megalópole carioca, sempre em partidos nanicos, de baixo quociente eleitoral e uma lista imensa de candidatos com os votos dos menos votados favorecendo os “da frente”…
Essas populações periféricas sempre foram deixadas à parte, menos pelos bicheiros e as milícias. É desse meio, como militar e evangélico oportunista, que surge o Jair Bolsonaro político, embora resida à beira-mar, na orla da Barra da Tijuca, em condomínio classe A.
O Sr. Bolsonaro – de pouca leitura – foi um dos mais apagados parlamentares invisíveis do chamado baixo clero. Passou praticamente a vida inteira (28 anos), antes de ser candidato à Presidência da República, como deputado, vivendo às custas do Estado brasileiro, ora como estudante, cadete, tenente e capitão reformado, ora como parlamentar e agora como presidente.
Apoiador do regime militar, dele não se pode dizer que teve uma vivência política liberal e republicana sendo de formação militar ditatorial, apoiador dos regimes de exceção que vigeram no Brasil. Note-se que um dos seus ídolos – todos militares – era o Sr. Brilhante Ustra, notório e cruel torturador do “período militar ditatorial” pelo qual passamos.
Aqui não temos, como na Europa, partidos tradicionais e vida partidária regular, onde pontificam partidos socialistas, sociais-democratas e de direita, com metas e programas. (Na Europa, todos os países são parlamentaristas. Somente a Irlanda foi republicana.) Tampouco somos como os EUA presidencialista com dois partidos tradicionais: democratas e republicanos. Aqui é uma desorganização generalizada, uma bagunça, um mar de queixas, uma má compreensão da política, muita desilusão e o que é pior, a vã esperança, quase sebastianista, em alguém milagroso que salvará todos com a graça de Deus! E uma classe média a merecer sérios estudos dos cientistas políticos, pois autoritária, desinformada e violenta, como disse no início.
O soba africano que nos governa, cuja estatura política iguala-se à de Evo Morales e quejandos, vem de nos fazer novas ameaças. Ei-lo em toda a sua majestade: “Está chegando a hora de tudo ser posto no devido lugar”. Se há algo a ser posto no seu devido lugar é V. Exa., com respeito ao que se está descobrindo a partir da “blitz” do ministro Alexandre Moraes, com espeque no artigo 43 do Regime Interno do STF, que tem “status” jurídico de lei especial, feita exclusivamente pelos ministros do STF para garantir sua autonomia.
Bolsonaro somente pode ameaçar seus milicianos da Zona Oeste do Rio e nos deixar em paz, como cidadãos que somos. Adoto aqui o dito por outro ex-eleitor de V. Exa., como eu. Diz ele: “Presidente, vá trabalhar e pare de encher o saco dos brasileiros. Já deu! Pare com essas ameaças ridículas. Parece criança de escola. E, outra, qual o motivo de sua preocupação? Quando a PF vai em cima de pessoas não alinhadas ao seu governo o senhor diz que a PF ‘está trabalhando’, mas quando vai sobre seus amiguinhos milicianos está havendo abuso?… Chega, deixe-nos em paz e vê se, ao menos uma vez na vida, trabalhe, o senhor e toda sua família. Caso contrário, vaze”.
Acrescento umas perguntas. Onde estão as privatizações? O enxugamento do serviço público? Somente 1,95%? (É ridículo.) Por que não divulga os números de inquéritos da sua corregedoria? Por que tantas informações de sua administração são tornadas “secretas”? Para que existe o portal da transparência?
O país precisa crescer. O povo, agora e depois da COVID-19, precisa achar emprego. Ministros do tipo Damares, já deviam ter sido exonerados. Não? São da mesma laia? Nesse caso, não tem mais salvação. Seu governo inicia – sem arrimos – um declínio inexorável.
Vergonhosa sua atuação na fuga do covarde Weintraub para os EUA. Entrou nos EUA como se fora ainda ministro, sem sê-lo, com imunidade diplomática, uma farsa. Após desembarque, avisou-o e V. Sra. publicou a exoneração do sujeitinho asqueroso no D.O. Vade retro satanás!
Faça seu comentário