O passado do moço

Bolsonaro virou presidente com um discurso contrário a tudo que praticou

A imprensa reporta que Bolsonaro aproveitou a redemocratização para pleitear aumento no soldo militar, o que não poderia fazer na ditadura. Depois, existem denúncias de que ele planejou explodir o sistema Guandu de abastecimento de água do Rio de Janeiro e seria expulso do Exército, mais pelas mentiras que contou do que pela patacoada pretendida. Passou beneficiando-se 27 anos das mamatas parlamentares e colocou os próprios filhos no mesmo caminho. Enfim, virou presidente com um discurso contrário a tudo que praticou. Ainda que ilegal, a sua indústria de desinformação, por trás da guerra, mantém uma linha produtiva especialmente dedicada a produzir “conteúdos” virais que corroem a honra de empresas e de jornalistas respeitados. Os ultrajes se alastram, impulsionados por direitistas festivos que trabalham de graça para o crime. Nas redes sociais, cada ofensa baixa contra uma redação profissional ou contra um repórter autoriza e incentiva os capangas que esbofeteiam jornalistas no meio da rua. O discurso do ódio virtual explode em violência material. Enquanto isso, o corneteiro-mor ordena, aos berros, que os repórteres profissionais calem a boca. Grita e repete: “Cala a boca!”.

O passado do moço

O escritor e jornalista Fernando Jorge atendeu à reportagem. Em meia hora, a conversa foi centrada no título de uma de suas obras, uma frase quase literalmente repetida pelo presidente Jair Bolsonaro. Cale a boca, jornalista! relata ataques sofridos por profissionais da imprensa no Brasil desde a época imperial, com destaque para o período do regime militar, marcado por torturas e mortes. O torturador Brilhante Ustra é ídolo de Bolsonaro. Certa feita, disse: “Viva Ustra, o pavor de Dilma”. Logo se deduz. Ele, se pudesse torturar, torturava mesmo seus desafetos.

Por que o presidente Jair Bolsonaro queria tanto trocar o superintendente da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro, como informou, em depoimento, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro?

Essa pergunta, que agora consta oficialmente em inquérito policial, terá de ser respondida pelo presidente Bolsonaro, mais cedo ou mais tarde. Melhor para o país que seja mais cedo, para que fique claro que o presidente pretendia interferir na estrutura da PF, em especial no Rio de Janeiro, estado que concentra seus interesses políticos e familiares, ora expostos em investigações constrangedoras para o clã presidencial, tipo as “rachadinhas” de Flávio, hoje senador.

Sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas derrotas políticas, o presidente Jair Bolsonaro inaugurou nova etapa em seu governo e começou a distribuir cargos aos partidos do Centrão em troca de votos no Congresso. Que vergonha!

Os militares, em 1964, constituíam, junto com diplomatas do Itamaraty, a elite do setor público brasileiro. Selecionados por concurso, recebiam treinamento contínuo e as melhores remunerações – além de gozar de grande prestígio político e social. Dada a importância brasileira no xadrez geopolítico do pós-guerra, os oficiais das Forças Armadas receberam treinamento militar norte-americano e construíram seu projeto para o país no contexto da Guerra Fria, tanto que derrubaram João Goulart e sustentaram uma ditadura de 21 anos (1964 a 1985).

Cenário muito diferente se vê hoje. Com a retomada da democracia, as Forças Armadas perderam protagonismo político, ao mesmo tempo em que orçamentos minguados e o congelamento de soldos tornaram suas carreiras menos atrativas. Os ministros Wagner Rosário e Tarcísio de Freitas são exemplos de militares que pediram baixa do Exército depois de concursos para carreiras civis. A pressão dos militares sobre Bolsonaro para ficarem de fora da reforma da Previdência demonstra que o corporativismo está acima do país.

A associação de Bolsonaro com o pior do Centrão, representado por Waldemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, escancara a voracidade com que se atacam os recursos públicos em troca de apoio político. É a “nova roupagem” do velho “presidencialismo de cooptação”.

Por fim, a fila de empresários de pires na mão se colocando a serviço de um presidente que ameaça o STF é o melhor retrato de uma indústria que, em décadas, não aprendeu a ser eficiente e a enfrentar as crises sem a proteção do Estado (fechamento de mercado, crédito subsidiado do BNDES e incentivos fiscais). Para tirar seus CNPJs da UTI, vale até mesmo marchar contra o STF. Que vergonha!

A aventura autoritária de Bolsonaro inclui o PowerPoint de Braga Netto, tweets de Roberto Jefferson e a passeata “coalização indústria e Palácio do Planalto” ao STF. Ridículo e patético. Bozo está às voltas com os escândalos na Polícia Federal. O rei está nu. É no que dá brigar com gente honesta (Moro), cujo prestígio é real e limpo. O que mais impressiona é o temperamento egoico e insensível do presidente. Até hoje, jamais se solidarizou com as famílias brasileiras que tiveram seus entes queridos ceifados pela COVID-19. Lamentável!

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