Será preciso mais energia e incentivos e menos burocracia por parte do governo central. Quanto menos o presidente falar, melhor será para a economia do país e felicidade geral da nação.
Em 2019, houve uma debandada de investidores estrangeiros, retirando dólares do país, fato pouco divulgado. Segundo Rosana Hessel, o Banco Central anunciou que U$ 44.8 bilhões deixaram o Brasil de 1º de janeiro a 30 de dezembro de 2019. Que tal, Bolsonaro? Deveríamos ter, como nos EUA, todo ano, o comparecimento do presidente ao Congresso (Câmara dos Deputados e Senado) para a tão famosa fala: “o estado da União”, quando o país passa a ouvir a prestação de contas do presidente da República.
Mas o que mais intriga é que a saída dos dólares somou US$ 17 bilhões, a maior desde 2014 (início do segundo mandato presidencial de Dilma). Dizem que o volume recorde de dezembro se deveu ao envio de lucros e dividendos para as matrizes das empresas estrangeiras sediadas no exterior. Contudo, a experiência mostra que isso não ocorre todos os anos. Estão faltando explicações e, portanto, elas precisam ser dadas. Mas não serão ofertadas. Somos anárquicos e desorganizados, ainda mais com um presidente fanfarrão como o nosso, que detesta seguir os ritos e a seriedade que a curul presidencial impõe aos chefes de Estado.
Parece-me que a explicação parcial da fuga dos dólares deve-se ao fato de o Brasil não ter crescido sequer no ritmo do ex-presidente interino Michel Temer, frustrando os fundos internacionais que esperavam ver o país recuperar o “grau de investimento” (investiment grade), obrigando-os a saírem do nosso mercado, apesar de o presidente ser um sabujo de Trump, de pouca valia no mercado financeiro, que de sobredobro aumentou as tarifas de importação do aço e alumínio do Brasil, setores em que somos competitivos no comércio com o exterior, a comprovar que as nações não têm amigos, mas interesses. Daí a importância de uma diplomacia objetiva em vez de faniquitos ideológicos , como sói acontecer neste governo. O ministro do Exterior mais parece um clérigo do que um simpático e atuante regente de nossas relações com os demais países do globo.
Isso não digo por pirrônia. É o que se vê e passo a provar. Temos três parceiros comerciais nas três primeiras posições do ranking a quem vendemos muito, mormente a agroindústria, o agronegócio e seus grãos e semimanufaturados e até produtos acabados (out-puts) e que são China, EUA e Argentina. Com relação à China — sequer é comunista mais, — a má vontade de Bolsonaro é evidente. Chegou a dizer que a China pode comprar do Brasil, mas não comprar o Brasil. Ora essa, quem disse que a China, maior em território, quer comprar o Brasil? Quer terras para produzir, como qualquer um. Seus investidores se propõem a fazer o que não fazemos. O empresário chinês do agronegócio deve ser bem-vindo. Bolsonaro, sem quê nem porquê, me sai com fraseado de chefe de grêmio estudantil em vez de incentivar os investimentos chineses. O agro representa 25% do PIB.
Isso num país que não cresce demais como deveria por falta de capital dos governos federais, estaduais e municipais, sem falar no baixo poder de investir dos capitalistas pátrios. É realmente desanimador.
O que mais me espanta é que os EUA são nossos maiores concorrentes no agronegócio. Disputamos com eles mercados como o da China: soja, milho, algodão, carnes bovinas e suínas, sem falar nos frangos. Além disso disputamos com a Austrália também alguns produtos primários e minérios de ferro e quejandos. E nosso presidente não se dá conta de que tem a obrigação de levar de vencida a disputa com os EUA em vez de fazer-lhe a corte, como menino deslumbrado.
O governo, de fato, não deve se meter na economia, mas pode ajudar. O que não pode é atrapalhar. O que nos reserva 2020? Será preciso mais energia e incentivos e menos burocracia por parte do governo central. Quanto menos o presidente falar, melhor será para a economia do país e felicidade geral da nação.
“Apesar dos impactos sofridos com a greve dos caminhoneiros de 2018 e um cenário externo instável, a agroindústria chega a 2020 com uma atividade mais aquecida, com destaque para as carnes, com alta nas exportações para a China, e o setor sucroalcooleiro, com a produção de açúcar e etanol”, afirma Serigati, da GV Agro. Dados divulgados na quarta-feira (8) pelo IBGE também apontam para números positivos. Segundo o instituto, o Brasil deve registrar em 2020 novos recordes tanto na produção de soja quanto na de algodão.
A produção nacional de soja, de acordo com o IBGE, deve chegar a 122,4 milhões de toneladas neste ano — alta de 7,8% em relação à colheita de 2019. Haverá aumento de produtividade, já que a área a ser plantada, 36,6 milhões de hectares, terá aumento de 2,2% em relação ao ano anterior. As projeções do IBGE, se confirmadas, darão novamente ao Brasil a posição de liderança mundial na produção de soja, passando os Estados Unidos para o segundo lugar.
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