O Brasil de Bolsonaro não passa de uma nulidade diplomática, um filhote obediente dos EUA. Não vai bem nem dentro nem fora do país. Sua política quanto à China é hostil, ou seja, é imbecil.
A política econômica de Bolsonaro, por ora, resume-se na reforma da Previdência, a partir da qual, investimentos e empregos brotariam da terra como capim. Só mesmo ignáros se convencem de tese tão esdrúxula, em que pese ser a reforma da Previdência absolutamente necessária.
A ida do presidente aos EUA foi espetacular e saiu até no Financial Times. Mas os resultados, até agora, são pífios, tanto em investimentos como em aumento do comércio ou preferências.
EUA e Brasil agora são amigos, são liberais e cristãos, andam de mãos dadas. Beleza!
Quanto à China, a política (diplomacia e comércio) é hostil, ou seja, é imbecil. Tiro da gaveta um estudo de Carlos Carvalho, Nicolini Gabriel, Henoch Mandelbaum, André Siqueira Campos, todos dos cursos de pós-graduação em relações internacionais da PUC-SP, Unicamp, Unesp e USP, sobre como o Brasil deveria se comportar em relação ao mundo para lá dos Andes, ou seja, o mundo do século 21.
Chegam à conclusão de que o governo é míope (eu diria cego). Mas ao cabo e ao fim que ideias críticas são essas? Mãos à obra, sem quebrar o texto desses especialistas, que o nosso governo não prestigia.
Jânio Quadros classificou as relações brasileiras com o Oriente como “terra incógnita”. A China é, agora, terra conhecida, mas continua incógnita a região do Indo-Pacífico (onde estão importantes parceiros econômicos do Brasil). O conceito de Indo-Pacífico (de Índia, Japão e Austrália), países situados no entorno do crescente poderio da China, forma, com os EUA, o QUAD, entendido por Pequim como uma “Otan oriental”.
Jinping enfatizou, recentemente, a modernização das Forças Armadas. Bem longe dali, a Alemanha acompanhou EUA e Austrália nas reticências sobre compras de empresas nacionais por capitais chineses e a União Europeia instaurou mecanismo de escrutínio dos investimentos estrangeiros, com foco nas ações chinesas.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Bolsonaro prefere mostrar desconforto com a compra de terras por chineses e membros de sua equipe apontaram as relações comerciais com a China como causa de desindustrialização do país… Pode? A China precisa do Brasil. A nova política externa de Brasília passaria a convergir com os receios de Washington, Canberra, Tóquio e Nova Délhi em relação à expansão da influência chinesa. Ernesto Araújo teria defendido a aproximação do Brasil com “países cristãos” e países governados por “nacionalistas”.
O movimento implicaria abandono da noção de equidistância pragmática que a Índia, Japão e Austrália praticam, ao manter estrategicamente vínculos cooperativos com os EUA sem sacrificar sua relação com a China.
As relações com a China afetam a posição do Brasil em seu entorno regional. Chile, Colômbia e Peru, vistos pela equipe de Bolsonaro como possíveis aliados ideológicos, criaram a Aliança do Pacífico para aproveitar as oportunidades abertas pela expansão comercial e financeira da China, projeto a que depois aderiu o México.
A Argentina de Macri enfatizou a melhora das relações com Washington, mas também procura atrair investimentos chineses e aprofundar acordos de preferência comercial com Pequim.
Contudo, alinhamentos ideológicos oferecem ganhos incertos e riscos claros. E não há sinais de que o Brasil possa ter aliados no Indo-Pacífico dispostos a confrontar Pequim com base em argumentos ideológicos.
O Brasil de Bolsonaro não passa de uma nulidade diplomática, um filhote obediente dos EUA. Não vai bem nem dentro nem fora do país.
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