Tolos são os que aguardam uma explosão democrática à moda ocidental, na China, capaz de esgarçar seu comando
A China, em 2010, chegou ao posto de segunda economia mundial, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 5,745 trilhões. É o maior importador e exportador do planeta, superando a Alemanha em 2009. Em 2013, terá um PIB equivalente à metade do norte-americano (US$ 14,745 bilhões). A velocidade do crescimento chinês é inquietante – começou em 1982. Em 2011, num espaço de tempo de 29 anos, saiu da 22ª posição para a segunda. A hegemonia inglesa durou 110 anos, até 1930. Hoje, é a sexta economia, atrás da França e seguida pela Itália e pelo Brasil. Quanto tempo durará a norte-americana, iniciada em 1945? Segundo o Instituto Euromonitor, a produção diária de alguns itens pela China são assustadores: 6,7 bilhões de cigarros ou 25% da produção mundial; 237 de pacotes de macarrão instantâneo (50%); 25 milhões de pares de sapatos (65%); carvão, 8 milhões de toneladas (40%); 3 milhões de camisas (40%); 3 milhões de celulares (35%); 320 mil TVs digitais (45%); 87 mil computadores (20%); 43 mil toneladas de alumínio e 9 mil picapes e ônibus (25%). No que toca à exportação, os chineses embarcam diariamente 310 mil câmeras digitais (80%); 160 mil bicicletas (80%); 660 mil gravatas (33%). Além da venda de brinquedos, isqueiros e lâmpadas de Natal, vendem estaleiros, máquinas pesadas, projetos turn-key de engenharia, motos e automóveis e aparelhos de precisão.
Um livro de Amy Chua, recentemente lançado nos Estados Unidos – Battle Hymn of the Tiger Mother (O hino marcial da mãe tigresa) –, virou best-seller. Ela é uma norte-americana de ascendência chinesa. A ética de Confúcio exige dedicação dos filhos aos pais e deles cuidar na senectude. Em troca, a mãe chinesa busca para os filhos capacitação para vencer na vida. A nota mínima na escola é 10; 9 é fracasso. Em recente encontro, os chineses bateram os norte-americanos em todas as séries, por nocaute (matemática, ciências e leitura). Há um mês, o secretário de Defesa norte-americano surpreendeu-se com mísseis chineses capazes de anular o poderio dos porta-aviões norte-americanos nos mares e um caça bombardeiro invisível aos radares. Virou moda acusar os EUA de inundar o mundo com dólares baratos, imprimidos sem cessar (e sem lastro) e a China de manter o yuan desvalorizado. Se o EUA podem imprimir dólar sem lastro, porque não pode a China calibrar o yuan? Se o Brasil se queixa da China, deve também fazê-lo dos EUA. Mas, diferentemente dos outros conflitos entre potências econômicas e militares, o dueto EUA-China tem aspectos inusitados. Todas as multinacionais norte-americanas e europeias atuam na China (e ganham dinheiro com a política de Beijing). A China tem US$ 2,8 trilhões de reservas e US$ 2 trilhões em treasures do governo norte-americano, cuja dívida pública já alcançou US$ 13 trilhões. A China não tem dívida pública, considerando suas reservas. Agora, financia a Itália e a Espanha, acumulando créditos em euros. Para não acumular mais reservas em dólar, adotou três caminhos: subsidiar a modernização dos grupos econômicos chineses (inovação); aumentar os gastos em portos, estradas, aeroportos, hospitais, infraestrutura em geral (emprego e renda); e adquirir ativos em terras agricultáveis e joint-ventures em mineração e agrobusiness no exterior. Não lhe convém confrontar os norte-americanos nem tampouco financiá-los com o dólar perdendo valor. Lembro-me do que me disse a mulher arguta de um graúdo empresário paulista: “Quando nos dermos conta estaremos presos na jaula do tigre”. Já estamos.
Tolos são os que aguardam uma “explosão democrática à moda ocidental” na China, capaz de esgarçar seu comando. O que há é gratidão. Barack Obama, cuja inteligência é superior, nisso não crê. Para os adeptos da Escola de Chicago, o capitalismo exige regime democrático, com eleições periódicas, tripartição de poderes e partidos. O chato é que a China provou exatamente o contrário. Um governo centralizado é melhor ainda. O Partido Comunista chinês lá tem alas, sublegendas, como que partidos. Xiaoping não ficou anos recluso? Ruiu mais um mito em pleno século 21. A riqueza, se o príncipe a distribuir dizia Maquiavel, garante a felicidade e a gratidão do povo. Justo o que os potentades árabes não fazem, mas a China, sim.
O Ocidente é muito jovem, dizia um diplomata chinês. “Ainda estão assimilando as ideias da revolução francesa”. Os homens brancos verão a ascensão da Ásia como centro econômico e cultural mundial. Muitos analistas dizem a renda per capita chinesa é baixa em relação à norte-americana e europeia: US$ 4.860. A China tem 1,3 bilhão de habitantes, uma vantagem imbatível, em produção e consumo. Que ninguém duvide que ela possa crescer, em média, 10% ao ano. É bem possível que em 2050 o mito da superioridade da raça branca – mirando China e Índia – seja um risível espectro do século 19. Como é fascinante a história!
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