Bolsonaro quer mandar e desmandar, sem dialogar, dia após dia, com o Congresso Nacional, tão eleito pelo povo como ele
O presidente Jair Bolsonaro tem 26 anos de vida pública no Legislativo, justamente no seu núcleo mais significativo, a Câmara dos Deputados. Decerto viu e ouviu muita coisa política. Hoje, sabe-se que sempre foi um parlamentar obscuro até no chamado “baixo clero”, homem de poucas falas e uma clientela fiel: militares e policiais, bem como outras organizações. Sempre votou com a centro-direita, já que a direita propriamente dita, violenta e antidemocrática, entre nós é irrisória, sem voto e sem voz!
O entrevero que o presidente da República vem mantendo com o habilidoso Rodrigo Maia, de uma estirpe originariamente potiguar, que está na política há mais de 150 anos (RN, Paraíba, Rio), não tem cabimento, porquanto quando um projeto de lei nasce no Executivo, com as digitais do presidente e de seus ministros, o governo tem o dever de reunir a sua base parlamentar e, através do seu líder na Casa, fazer as articulações necessárias. É assim em qualquer lugar do mundo, desde a democracia bipartidária norte-americana até a Itália, multipartidária e complexa.
Bolsonaro – o que se não entende, para quem viveu tantos anos no Parlamento – acha que o presidente da Câmara tem o dever de articular o projeto da Previdência feito pelos competentes ministros Marinho e Guedes, dois expoentes (Marinho é egresso do governo Temer e tem luz própria). Ora, Maia preside o Poder Legislativo multipartidário, não serve ao Executivo.
O projeto é do governo (Executivo), não nasceu no Congresso. É lógico que o governo tem o dever de pôr a mão na massa e viabilizá-lo. Cheio de pruridos, o presidente se nega a tratar com os partidos políticos, a pretexto – de resto ofensivo de se dizer – de que os deputados, para votar irão propor compensações pessoais ou partidárias, como de resto ocorre em todas as democracias, com maior ou menor intensidade, não vindo ao caso discutir esse assunto aqui e agora.
Bolsonaro quer ser como Calígula ou Nero, ou César. Quer mandar e desmandar, sem dialogar, dia após dia, com o Congresso Nacional, tão eleito pelo povo como ele. Sabemos já como se findaram Calígula, Nero e César, esse último esfaqueado no Senado, inclusive pelo seu fiel amigo Brutus…
A política exige “expertise”, diálogos, cedendas e cobranças. Bolsonaro não pode nem deve impor ao país e ao Congresso um governo unipessoal; pelo contrário, tem que mostrar ao país e ao povo sua habilidade política e seu savoir-faire, ou seja, que sabe governar, tem experiência e traquejo político, respeitando e transitando pelos três poderes da República. Militar e mandão, ele é cesarista ou gostaria de sê-lo. É como se estivesse no comando da tropa. Nem seu ídolo, Trump, consegue impor seus quereres (tipo muro entre os EUA e o México, coisa de doido varrido), quanto mais ele que vive num país com mais de 18 partidos com representação no Congresso e não apenas dois como os EUA! Seu partido tem 53 deputados fiéis (e só!), numa Câmara com mais de 500 membros. Das duas, uma: acha um modus vivendi com o Legislativo ou não governa. Aliás, a impressão de inércia cresce a cada dia, desde a posse de S. Exa. Tivemos já um bonapartista que se deu mal, o Sr. Jânio Quadros, e um outro, cheio de si, que acabou sofrendo impeachment, instituto que aprimoramos para arrancar Dilma da cadeira presidencial. Todo cuidado é pouco. A aprovação popular do presidente vem caindo e os políticos já estão percebendo as energias dos curtos-circuitos políticos. O “centrão” no Parlamento já mostrou várias vezes a que veio e vem!
Isso me irrita até a exaustão. Nunca precisamos tanto de ordem, esperança e crescimento econômico. O Brasil nos últimos 10 anos cresceu 0,9% ao ano, ou seja, menos de 1%. E, quando se olha o quadro político, a necessidade das três reformas (previdenciária, tributária e trabalhista), o que se vê? Confrontos e desencontros. Vale dizer, vamos continuar a crescer seis vezes menos que o Paraguai! Entretanto, estamos numa quadra econômica excepcional. O agronegócio brasileiro é fortíssimo, logo atrás dos EUA (suco de laranja, frutas tropicais, sumos diversos, seja natural e transgênico, algodão, café e derivados, milho à vontade, sorgo, arroz, feijões de todo tipo, cacau, até trigo). A nossa indústria é diversificada, precisando apenas de uma injeção maior de procura para expandir-se. E temos uma infraestrutura por fazer, o que daria um choque nas forças produtivas da nação, com a criação de empregos e aumento da renda, já que o desemprego está em níveis insuportáveis. O povo precisa trabalhar e pôr comida na mesa. Mas o governo parece um tanto desarrumado. Mãos à obra. Precisamos crescer e logo! Que se acabem essas batalhas de “egos”.
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