“Estamos testando a resiliência do país, testando quanto desaforo o país aguenta”.
Excluída a Venezuela bolivariana, aquela do socialismo do século 21 – de causar risada –, nas três Américas o único país em recessão há três anos (ah! Dona Dilma!) é o mal-aventurado Brasil.
A África, turbinada pela China, segue melhorando. A Europa cresce mais do que se esperava. Os EUA (PIB de US$ 18 trilhões) cresce entre 1,5% e 2%, nada mal. A Ásia, puxada pela locomotiva chinesa (com PIB de US$ 13,2 trilhões), vai se tornando a zona econômica mais dinâmica do mundo. O Japão, arrebentado em 1946 na Segunda Guerra Mundial, hoje tem um PIB de US$ 4,8 trilhões, território minúsculo e nenhum recurso natural.
Por aqui, o Congresso resiste às reformas do presidente e da melhor equipe econômica que já tivemos (medo eleitoral). O Brasil é um país de dois andares. No andar de cima estão 11,1 milhões de funcionários públicos da administração direta e indireta, nos três poderes, levando-se em conta os três níveis da Federação (União, estados e municípios), empresas estatais e semiestatais e suas instrumentalidades, como o BNDES, CEF, BB etc. Nesse andar estão também – não todos – os profissionais liberais e a maioria dos empresários do campo e das cidades (pequenas, médias e grandes empresas nacionais ou multinacionais), os religiosos, os do mercado financeiro e a classe política, num país que tem 27 estados e mais de 5.400 câmaras municipais, bem remuneradas.
No andar de baixo, com vários porões nauseabundos, estão os trabalhadores em geral, do campo e das cidades, a baixa classe média e os microempresários (os que estão por conta própria), que formam a maioria absoluta de nossa população, estimada hoje em 208 milhões de pessoas. No andar de baixo moram, sem dúvida, uns 138 milhões de brasileiros. Os outros 70 milhões formam como que um país à parte. Agora, na hora da aposentação, somente os funcionários e os políticos dão baixa com vencimentos integrais. Os particulares ficam no andar de baixo.
Olhemos o futuro com o olhar de Marcos Lisboa, economista da nova geração. Vejamos as perguntas a que ele responde. Quais são os efeitos, para a economia, das denúncias contra o presidente Michel Temer? “Há um ano, tínhamos juros e inflação altos, recessão e desemprego crescentes. Não havia perspectiva de melhora. Se continuasse daquele jeito, a dívida pública se tornaria impagável, e todos iríamos virar o Rio de Janeiro, ou voltaria à inflação crônica, como outros países da América Latina estão vivendo. Quando mudou a agenda econômica, a partir do terceiro trimestre do ano passado, enfrentando os problemas estruturais como a reforma da Previdência, olhou-se para o futuro e parecia que havia uma saída. O câmbio caiu, e a bolsa começou a reagir. Isso permitiu que juros e inflação baixassem, e os indicadores de confiança voltassem a subir. Alguns setores voltaram a contratar. Continuando assim, vamos voltar à normalidade.”
A reforma da Previdência é suficiente? “É necessária, mas não é só isso. É preciso ajustar as contas públicas em mais de R$ 350 bilhões. A reforma interrompe a piora do gasto público, que, sem ela, vai se tornar inviável. A meta é um déficit de R$ 139 bilhões. É preciso um ajuste de R$ 250 bilhões para equilibrar as contas. A dívida subiu de 50% para 70% do PIB. Vai atingir 80%, 90%, 100%, 120% e se tornar insustentável. Teremos muita inflação e problemas com o pagamento da dívida. Um debate possível é quando vamos reduzir as desonerações e os benefícios tributários. O Brasil é cheio de regimes especiais de tributação. Por que não todos pagarem impostos da mesma maneira? No Simples, há profissionais com curso superior, mas um grupo paga metade de imposto do outro. Há uma complexidade tributária enorme. Implantamos uma enormidade de políticas sem avaliar, gasta-se sem saber como. Há programas positivos que já foram bem avaliados, como o Bolsa-Família, e outros que não têm resultado, como o Pronatec.”
Nossas instituições são fortes o suficiente para superar este momento? “Estamos testando a resiliência do país, testando quanto desaforo o país aguenta. Eu temo o tamanho da crise econômica nos próximos anos. Com a crise transbordando para fora da economia, com hospitais sem remédio, segurança falhando, escolas degradadas. Vivemos uma década e meia disso nos anos 1980.”
São perspectivas sombrias, digo eu.
Em seguida, o economista dá a entender que a tal denúncia do Janot estropiou o crescimento do país. Que coisa, hein Janot? E ainda liberou mais de 1.800 crimes de corrupção ativa dos irmãos Batista, sem falar no acordo de leniência da JBS feita pelo seu assessor, Miller. Advogado igual não há no Brasil!
Mas mesmo ele sente agora o gosto amargo da desconfiança, para uns a do descrédito, do açodamento ou da traição!
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