Além da morte de Fidel

A ditadura continua, agora sem muitas chances em face de Trump. Somente a Espanha e o México salvam a pobre ilha, em estado de necessidade

Aos 90 anos, morreu o ditador mais longevo da América Latina. A chamada revolução cubana tornou-se vitoriosa em 1960. Mas, antes disso, depois de preso e anistiado pelo ditador Fulgêncio Batista, por participar de uma rebelião de caráter democrático para reconstitucionalizar o país, exilou-se no México, onde conheceu Che Guevara, que o converteu ao marxismo junto com a intelectualidade de esquerda mexicana.

Além da morte de FidelEm novembro/dezembro de 1956, depois de atravessar o Caribe junto com Camilo Cienfuegos, Che Guevara e, dizem, outros 70 revolucionários (que estavam asilados no México), finalmente desembarcaram em Cuba e foram para Sierra Maestra a fazer guerrilha e aliciamento de camponeses para derrubar o governo de Fulgêncio Batista. No fim do ano de 1960 entrou em Havana vitorioso, atraindo a simpatia de todas as classes sociais.

Entretanto, embora estivesse dialogando com os diversos segmentos da sociedade, sua determinação era instaurar a ditadura comunista, como pretendia. É erro rotundo achar que a má vontade americana o tornou comunista, caso único na história. Em 1961 o “paredón” recebia massivamente os que seriam fuzilados. Cuba rompera relações com os EUA e a União Soviética a ela aliou-se e instalou mísseis na ilha.

Fidel Castro foi sanguinário e liberticida. Atrasou exatos 56 anos a economia do país. Cuba é tão velha e parada no tempo como quando os Castros assumiram o poder. Nunca houve tamanho fracasso econômico na mais progressista sociedade do Caribe, depois do México.

Como Dom Quixote a pelejar contra os moinhos de vento, combateu o “imperialismo americano” e meteu-se na política de outros países, como em Angola, outra ditadura disfarçada. Eduardo Santos continua lá como ditador-presidente, graças a ele (a sua filha Isabel é a mulher mais rica do país, tal como a camarilha de Chaves na Venezuela). Inspirou idiotas em toda a América Latina e pretendeu exportar “sua revolução”.

Em nome da utopia da igualdade comunista, balela velha de 20 anos, no mínimo, ao tempo de sua revolução, tirou a liberdade de seu povo e fê-lo passar fome. Racionou a comida no limite do necessário. Da segunda vez em que lá fui, só havia leite para crianças e turistas. Cada cubano tinha e tem uma caderneta com a quantidade de víveres – poucos – que podem consumir por mês. Cada qual os retira de um armazém predeterminado, depois de o governo investigar os membros de cada família a viverem juntos. Cada uma tem a sua “bodega”. Outras não são acessíveis. Se a comida acabar antes, passa fome ou vai pedir aos parentes.

O governo é dono de tudo e manda em todos. Quando um casal com dois filhos separa-se, o marido fica em um quarto, partilhado com outro divorciado indicado pelo governo. O aborto é livre e gratuito.

Quatro coisas boas fez Fidel: deu educação fundamental a todos; criou um sistema médico suficiente para a população; incentivou os esportes e a polícia. A criminalidade é mínima e a lei forte. Mas nada disso compensou os 2 milhões e meio de exilados, os 70 intelectuais perseguidos a ferro e fogo por terem opinião própria e os dissidentes mortos, aos milhares, sem falar nos presos políticos e os delitos de opinião.

A economia do país estagnou. Apenas fabrica charutos, açúcar, explora poucos minérios e o turismo. Em Cuba, é verdade, não há ricos, privilegiados os há, os do partido comunista cubano. O resto se diz orgulhosamente “igual” (mas por baixo). São todos pobres, mas ninguém é miserável. Como a economia não tem como funcionar e se ganha vergonhosamente pouco, a polícia fiscaliza a vida de todos, sob pena de dobrarem os braços. Os pedidos de licença médica são enormes e, às vezes, nem os doentes as conseguem. Virou malandragem.

Seja lá como for, não vejo como elogiar Fidel e não fazê-lo relativamente a Pinochet, Stalin, Hitler e Mao Tsé-Tung. Todos procuraram melhorar a economia de seus países e o fizeram de modo muito mais eficaz, porém, com o sacrifício da liberdade. Todo ditador deveria ser enforcado mesmo depois de morto.

Enquanto em Nova York, Madrid e Miami a morte de Fidel é comemorada, em Havana reina um silêncio sepulcral. Em parte é a tristeza do povo doutrinado no culto à personalidade, que nunca viu ou leu nada sobre o mundo. A outra parte é de quem tem vontade de comemorar, mas tem medo da polícia política.

Fidel morreu, mas a ditadura continua, agora sem muitas chances em face de Trump. Somente a Espanha e o México salvam a pobre ilha, em estado de necessidade.

A ida de Lula e Dilma aos funerais – parece que dispõem de dinheiro, a tempo e a hora bem mostra a filiação ideológica desses ex-presidentes do Brasil. Escapamos por pouco. Eu que nunca vi Dilma chorando, estranhei as lágrimas copiosas que por lá deixou.

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