Quando os nossos se educarem, muitos brasileiros subirão nos pódios, mormente no atletismo e nas lutas
Na era do iluminismo europeu, eles viviam a se guerrear, cada condestável com suas bandeiras desfraldadas e seus tambores medievais. Foi quando o Almirante americano Perry bombardeou Tókio com o aviso de que, se não abrissem seus feudos e cidades ao comércio, iriam se haver com ele. Antes disso, para revogar um édito imperial, os ingleses já haviam feito guerra ao Imperador da China, que proibira o uso pelos chineses do ópio que eles fabricavam no sudeste asiático (iniciando o chamado “século da humilhação e da vergonha”, segundo os historiadores chineses).
O Japão era ainda semifeudal quando o imperialismo predatório americano invadiu seus mares. A Dinastia Tokugawa foi trocada pela Meiji para ceder aos EUA e aprender o novo, mas a China gerara quatro grandes civilizações nos últimos 3 mil anos de sua história. Era uma grande nação, com população 10 vezes maior que a das vulcânicas ilhas japonesas, daí o impacto brutal dos fatos aqui narrados. Mas a história, além de dinâmica, muito nos ensina. Cingindo-se aos três últimos séculos e meio (da revolução industrial a essa parte), meu amigo Gustavo Brigagão dizia-me que os povos de língua inglesa tinham dado certo (Inglaterra, EUA, Canadá, Gales, Escócia, Irlanda do Norte, Austrália e Nova Zelândia).
A Irlanda do Sul era paupérrima no começo do século 20 (a do Norte foi invadida pelos protestantes ingleses). Canadá (bilíngue), Austrália e Nova Zelândia são povos de exígua população. Restaram excluídas a África do Sul, que fala afrikaner, as ilhas caribenhas e da micronésia e os países africanos de língua inglesa, que não deram tão certo.Pareceu-me interessante essa suposta interação de etnia e a língua por ela falada como fator de sucesso econômico, em termos modernos, descontado o fato de que os pioneiros australianos eram os criminosos das prisões do Reino Unido, sistematicamente degredados durante um século e meio, para a terra dos cangurus. (um país de criminosos e imigrantes asiáticos que deu certo).
As compras de carne e lã da Austrália e da Nova Zelândia por Londres explicam os sucessos garantidos dessas colônias (parcialmente). Os EUA e o Canadá, que se iniciaram claudicantes, encontram explicação para o sucesso nos muitos imigrantes, território e na livre iniciativa radical. Sim, foi o sindicalismo e o welfare state do Partido Trabalhista, na Inglaterra, aliados à perda das colônias, mormente a Índia, tendo a frente Ghandi (para Churchil mais uma ave pernalta e disforme do que um ser humano), que decretou fim do Império Inglês, de apenas um século e meio. Hoje o PIB do Reino Unido empata com o do Brasil e é 80% de serviços.
Raça por raça prefiro a HAN que, em 30 anos, transformou a 14ª economia do mundo em segunda (US$ 14 trilhões). Império por império, para honrar os australianos, prefiro o maior, nascido em uma Cidade-Estado que era também valhacouto de bandidos. Refiro-me ao Império Romano e ao latim, cujo mando implacável durou em toda a Bacia do Mediterrâneo e adjacências por 10 séculos, no Ocidente, e 15 séculos no Oriente (o Império Romano – bizantino).
Podemos dizer, sem medo de errar, que os romanos deram certo e os países que criaram. A raça dos romanos, mesmo com o sangue — nem tão diverso das sabinas raptadas para gerar-lhe descendência — por acaso os tornaram até hoje superiores? França, Itália, Espanha, partes restantes do cetro romano, como Gales e Escócia o são da Inglaterra, devem ao gênio comercial, militar, administrativo e cultural de Roma, a sua exitosa existência, suas economias consolidadas? Seria simplório supor que sim embora o sucesso dos povos de língua inglesa seja pouco questionado. Um americano, recentemente, aventou que o erro histórico da China foi não ter dominado a Europa no século 13, colonizando-a com seu poderio naval oceânico (as naves eram seis vezes maiores e potentes que os barcos europeus).
Semana passada, um navio japonês, cujo apego à higiene é fantástico, aportou no Recife e os marinheiros puseram-se a limpar a região do porto. O impacto foi tal que a situação vai melhorar. Os limpos japoneses modernos cataram os restos da festa no estádio olímpico, no Rio, a mais bela lição que os jogos nos deixaram. A mais feia foi a de um francês narcisista do salto com vara, três vezes vencido pelo garoto Braz; na psicologia, sarrafo e torcida. Nos comparou ao público nazista nos jogos de 1936 e foi repudiado pela própria mídia francesa. Somos alegres e barulhentos, vaiamos e aplaudimos. Esporte não é ópera. Ninguém muda o modo brasileiro de ser. A lição desmistificadora foi a dos baianos no boxe e na canoagem a braçadas, esportes espancadores da preguiça. Mas a lição intuitiva é a da presença maciça dos negros nos esportes que lhes permitiram. Quando os nossos se educarem, muitos brasileiros subirão nos pódios, mormente no atletismo e nas lutas. Não apenas nos pódios.
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