A única chance de nos livrarmos do afogamento é apoiar o governo Temer e seu ministro da Fazenda, com medidas duras que atingirão os trabalhadores, os aposentados, empresários, a classe média e o funcionalismo
Após a divulgação espalhafatosa dos vídeos do traiçoeiro e covarde Sérgio Machado com o ministro Jucá, Renan e Sarney, bem como do ex-deputado Corrêa, a deixar Lula e Dilma em apuros, ganhamos a percepção das correntes políticas situacionistas que compartilhavam o poder nacional. Havia o PMDB ressentido de Temer, Padilha, Moreira Franco e Jucá; o PMDB do Senado, aliado firme de Lula e de Falcão (presidente do PT), comandado por Renan Calheiros, e o grupo palaciano de Dilma, Mercadante, Wagner e Edinho Silva (“dilmismo”), a “fritar” Lula na esperança de ser o “lado bom” da força petista, tendo como ícone a “presidenta”, supostamente “honesta”, diferente do “lulopetismo” (Dirceu, Delúbio, João Vaccari), do PP e do PMDB, paradoxalmente sua base parlamentar.
O que se passou? Dilma perdeu rapidamente apoio congressual. Perto do fim, tentou-se um “parlamentarismo branco”, ou seja, Lula como chefe da Casa Civil com funções de primeito-ministro, daí a resistência de Renan em apoiar o desembarque do PMDB do governo: “O PMDB desembarcou do governo no meio do oceano”.
Com o STF “amigo” não se revelando como tal e mais a decisão de considerar réu preso (em definitivo) o que tivesse a condenação confirmada já na 2ª Instância constituíram um golpe tremendo na impunidade dos políticos e empresários sem foro privilegiado, tipo Machado, reforçando a Lava-jato.
Com a maré montante da indignação popular tornando-se uma tormenta, Lula não pôde tomar posse e Renan pulou na undécima hora para a única solução constitucional possível, o impeachment, magistralmente conduzido por Eduardo Cunha, seguindo-se a posse do vice-presidente, cuja função é exatamente a de substituir presidente ausente, morto ou impedido.
Essas gravações de Machado são estéreis para fins criminais, revelam opiniões e não atos ou tentativas concretas de obstrução da Justiça. As fitas de Corrêa apenas o colocam na posição de testemunha de acusação a Lula e Dilma. São diferentes das gravações de Delcídio e Mercadante, que prometiam e insinuavam atos concretos e ajudas financeiras para evitar delações premiadas de alto teor acusatório: a de Cerveró (Delcídio, a pedido de Lula) e a do próprio Delcídio (Mercadante).
Que o mundo oficial tem horror da Lava-Jato é fato sabido e ressabido. Lula e Dilma, naquele vídeo famoso, disseram horrores da operação: Lula disse que um “juizinho” de 1ª Instância revirava tudo, diante de um Congresso covarde e de um STF acovardado, apelando para as saias de Rosa Weber (pois os homens não honravam as calças). A presidente lhe mandou um ato de posse assinado, sem ter havido posse, para livrá-lo de Moro. O deputado Damous (PT) apresentou projeto de lei vedando delação premiada de réu preventivamente preso.
E o povo do Brasil, em vez de exigir soluções econômicas apoiando Temer, fica a discutir grotescamente fofocas políticas. Perdeu a noção do essencial. Mas Temer, ao contrário de Dilma, que tem horror da mulher do seu marqueteiro Santana e da delação de Marcelo da Odebrecht, está sem rabo preso, o que é muito bom para o país. Se tivesse, não se convocaria para assumir o Executivo da nação.
O PT fará o possível para transtornar a nação, “esquecido” da situação econômica criada durante 13 anos e 4 meses de governos petistas. A única chance de nos livrarmos do afogamento é apoiar o governo Temer e seu ministro da Fazenda, com medidas duras que atingirão os trabalhadores, os aposentados, empresários, a classe média e o funcionalismo. Mas é a única solução. Estamos como a Inglaterra de Churchill, isolada pela Alemanha de Hitler em 1939. “Só posso lhes prometer sangue, suor e lágrimas”, dizia o inglês estadista. Temer não tem que se equilibrar, mas fazer o que tem que ser feito. Se virar um Sarney, não terá valido a pena ser presidente do Brasil.
Depois da borrasca virá ensolarada estação. Nem é bom pensar na volta de Dilma ao poder. Sem a fé do povo, sem a confiança dos empresários, sem quadros preparados, sem apoio no Congresso Nacional, nada poderá fazer. Independentemente do impeachment, seu governo acabou. É como disse Milan Kundera: “Tudo que é sólido desmancha no ar”.
E a corrupção endêmica que temos? Como combatê-la? Três providências se impõem. Diminuir o tamanho do Estado e profissionalizá-lo; privatizar as empresas estatais (quanto mais empresas estatais, maior a corrupção); endurecer a lei penal para persuadir políticos, funcionários e empresários de que pena longa não compensa o risco. Os poderosos estavam, até a Lavja-Jato, absolutamente convictos da impunidade. No Brasil, é a máquina pública que financia os partidos. Esse tempo se foi com o governo Dilma. No final teremos poucos partidos, parlamentarismo e correntes de opinião.
É apoiar Temer e vigiar. E depois dele, continuar a martelar que capitalismo, combate às desigualdades, ética e democracia são absolutamente compatíveis e complementares.
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