No comando de um galeão batido por severa tempestade, a presidente simplesmente não sabe o que fazer
O ex-presidente do Banco Central é um liberal convicto, cabeça feita no Bank of Boston. Lula o quis no Ministério da Fazenda por saber que o capitalismo funciona mesmo. Seus programas Bolsa-Família e o Minha casa, minha vida são espécies de coronelismo do século 21 e funcionam como seguros eleitorais para sua volta ao almejado poder, embora sejam programas positivos, se tiverem boa gestão. Dilma, porém, não o quis.
Em 11 de novembro, na Confederação Nacional da Indústria, um Levy com os dias contados falou junto a Henrique Meirelles. Este último, disse a Dilma e ao Brasil, publicamente, o que faria caso viesse a tornar-se ministro da Fazenda. Segundo ele, a inflação cai para 9,5% ou 8,5% em razão da falta de procura por bens e serviços no ano de 2016. O dinheiro está curto e não pressiona a oferta, cada vez mais retraída. Cresceu a inflação em 2015 porque os preços administrados que Dilma segurou no 1º mandato foram destravados: tarifas diversas, correios, energia elétrica, combustíveis, transportes, por aí; além da elevação do dólar (encarecendo insumos importados e mercadorias cotadas no mercado internacional).
Além disso, referiu-se às reservas de US$ 380 bilhões. Mas não aliviou a necessidade do ajuste fiscal, pelo contrário. E não ficou nisso, vincou a necessidade de privatizações e diminuição do Estado: “Então, como se resolve a questão fiscal? Com corte de despesas públicas. Se olharmos para um prazo mais longo, teremos que enfrentar essa questão” e “a CPMF não é necessariamente um imposto positivo, existem diversas formas de tributação que são mais produtivas para a economia. O país tem força”. Meirelles, em seu discurso, lamentou o alto custo da energia e as deficiências na infraestrutura, como travas aos ganhos de produtividade, e ainda enfatizou a necessidade, urgentíssima, de acelerar as concessões ao setor privado. Puxou as orelhas de Dilma, a voluntariosa socialista que sempre foi (aprés la lettre). Disse mais: “Não adianta forçar os empresários a investir com taxa de retorno mínimo ou prefixado”. E arrematou: “Não funciona”. Foi aplaudido de pé ao elogiar a livre-concorrência.
Segundo Edna Simão, Campos e Ruttner, do Valor Econômico: “Meirelles foi interpelado sobre como o quadro político está atrapalhando a economia. Ele respondeu que a crise política tem de ser resolvida de forma clara. Que há margem para o Executivo influenciar o Congresso, desde que com uma política clara e sabendo aonde se quer chegar. Comparando três cenários distintos elaborados por economistas, sem mencionar de onde tirou os números, Meirelles disse que o crescimento da economia ao longo dos próximos 10 anos pode ficar em uma média anual de apenas 1,2% se não houver ajustes. Com um ajuste fiscal, essa média pode subir para 3% ao ano. Se houver reformas, além do ajuste, o PIB poderá crescer ao ritmo de 4% na próxima década. ‘Já tivemos isso. Não é inviável ou impossível para o Brasil’, afirmou.”
Meirelles, portanto, além da vontade de ser presidente do Brasil, é um homem do mercado, sintonizado com os bancos e o empresariado. Não tem nada de socialista nem de dirigista estatizante, como Mantega e a trupe de economistas heterodoxos do PT. A preferência de Lula por Meirelles não tem, por igual, nada a ver com o seu partido, mas com a sua sede de poder, seu desespero, seu imediatismo e para além dele, com as eleições de 2018, caso se livre dos processos judiciais.
O sindicalista carismático e conversador, de pouca leitura, mas de faro político aguçado, quer ser o presidente de um governo liberal, como o de FHC (e ao mesmo tempo coronelístico), herdeiro de Getúlio e Jango, como o “pai dos pobres”. Mas o Brasil ainda está nesse estágio? É o que veremos nas eleições municipais de 2016, que podem antecipar o futuro.
Quanto a Dilma, tão autoritária, cabe decidir o que dizer. No comando de um galeão batido por severa tempestade, ela simplesmente não sabe o que fazer. Não tem a grandeza de imolar a própria vida como Vargas (nem nos parece que a comédia política atual tenha tamanha dramaticidade), além de faltar-lhe a visão de longo prazo. Relutou em passar o timão a Meirelles ou a pessoas definidas e independentes.
Em verdade, o galeão e toda a tripulação foi-lhe presenteado por Lula (mandato-tampão). Ele até quis voltar, mas ela, depois de singrar o Atlântico no primeiro mandato, tomou gosto pela navegação, mesmo sem marinhagem, e resolveu atravessar o Oceano Índico, logo tomado pelas monções, entre raios e tempestades.
É uma pena ver a nação inteira e seu sofrido povo nessa nau sem rumo. No mastro, está a bandeira do Brasil, sua proa singra o oceano proceloso. E todos se perguntam como será o futuro da nação, agora que o Levy se foi. Vem a presidente de nomear para a Fazenda o Barbosa, vulgo Barbosão, um homem acostumado a curvar a cerviz. Agora perdemos o rumo de vez.
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