Tenho desincentivado amigos a virem ao Brasil. É mais seguro fazer safári nas reservas cheias de feras na África.
O casal de idosos do Rio de Janeiro dirigia-se a um restaurante em Charitas, Niterói. O Waze, sem conhecer a realidade das ruas, traçou a rota mais curta. Nenhum programa de computador jamais substituirá o cérebro humano, cuja percepção é empírica e imediata.
Afora o fato de o poder municipal no Brasil, mormente nas regiões metropolitanas, repetir desleixadamente os nomes das ruas (São Paulo tem 9 ruas Caiubi), pondo a perder os programas de computador ponto a ponto, o que estarrece nesta história é que o casal se embarafustou numa rua sob o absoluto controle de traficantes de drogas. Ao verificarem não ser os habituais fregueses, os mandaram dar meia volta e se escafederem.
Mas, perversos como são, deram uns tiros de metralhadora no carro do casal para assustá-los. Uma bala, porém, atingiu o corpo da senhora e ela veio a falecer nos braços do seu esposo de uma vida inteira, numa rangente cama de pronto-socorro desaparelhado, como sói acontecer no Brasil.
Os jornais noticiaram, nós ficamos sabendo, aumentou a nossa taxa de medo (e de inação em face do inevitável) e tudo ficou como dantes no quartel de Abrantes. Mais uma cena de violência. Ora, ora, isso é corriqueiro neste país de frouxos. Fazer o quê? Foi quando ouvi no rádio de uma pessoa anônima terrível imprecação, que as minhas convicções legais não aceitavam, mas que admirei. Ei-la: “Qual nada. Se fôssemos um povo enérgico, o poder do Estado, que detém o monopólio da violência, deveria ter entrado no beco armado até os dentes e metralhado os assassinos, deixando os cadáveres insepultos, para que o cheiro nauseabundo das hienas passasse a todos os bandidos que dominam o país, o veredicto sumário da justiça em ato, como nos tempos bíblicos”. Referia-se ao episódio de Jabes-Gileade. Certamente era evangélico.
Os Estados Unidos, durante o caos e a insegurança provocados pela guerra da Independência, incapazes de defender a sociedade condignamente, fizeram uma segunda emenda constitucional autorizando os cidadãos a portar armas e matar em legítima defesa. Hoje os americanos não precisam mais disso, pelo contrário. A polícia atua com tolerância zero e, se o meliante não se deitar com a cara no chão e as mãos para o alto, é imediatamente crivado de balas. E nenhum policial vai sequer a júri (quem não quer encrenca com a polícia não estupra, não rouba, não mata, não furta, não trafica, desfigurando o corpo e a alma dos seus semelhantes).
Tenho desincentivado amigos a virem ao Brasil. É mais seguro fazer safári nas reservas cheias de feras na África. Sem dúvida é bem menos violento, chega a ser contemplativo. O nosso país é espoliado por governantes e políticos safados aboletados nas instituições mais elevadas da República. Sequer se pode ir à praia por causa dos arrastões. Os ladrões roubam nos trens, no metrô, dentro dos ônibus, nas estações, nas ruas, nas casas e estabelecimentos, nos presídios, de onde comandam golpes com a ajuda dos comparsas soltos. Quando um policial mata um traficantezinho, os defensores dos “direitos humanos” se enfezam (ou seja, acumulam fezes em seus corpos sacrossantos).
A morte na favela do Caramujo da senhora idosa ficará para sempre impune, como milhares de outras. E só quem tem vergonha na cara dirá: “Ó pátria amada, não mereces o nosso afeto e menos ainda o nosso respeito. Maldita a hora em que nasci neste inferno de gente leniente e de instituições falidas!”. Aqui pouco me toca a beleza natural da terra e os mansos de espírito. A minha vida, a dos parentes, amigos, filhos, netos e conterrâneos de bem não valem um tostão de mel coado. E isso é que importa. Quem me dera morar em Portugal, um jardim florido à beira do Atlântico plantado, justo onde a Europa acaba e o oceano se inicia. Vindo de lá para o sul estamos nós. Sós!
O governo arrecada 37% do PIB brasileiro de R$ 5,6 trilhões, algo à volta de R$ 1,9 trilhão (União, estados e municípios). Somente a União, até 1914 ,ficou perto de R$ 1, 4 trilhão. E mesmo assim teve déficit orçamentário naquele ano. Pagamos muitos impostos e nada temos. E ainda querem novamente a CPMF. Recusamos o aumento da escorchante carga tributária.
As pessoas estão constatando um acúmulo de tensões, de ódios reprimidos, de iras justas, de intolerância para com o governo e os políticos. Esse ambiente caminha com a persistência dos problemas e a sistemática irresolução deles há décadas. Estamos à beira de uma convulsão explosiva. Será o fim de uma época, de um modo de fazer política, de um modelo frustrado de democracia.
Mas será também de alvoradas, de esperança e de renovação. Desde a proclamação da República a participação popular não se fazia tão presente, descontente e inquieta. Os brasileiros já não podem migrar. Para onde? Haverão de endireitar a nação. Devemos exigir pressa para o impeachment. Fazer pressões nas ruas. Se nos acomodarmos as quadrilhas continuarão a governar.
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