A maioria sunita, em várias facções “resolveu” desestabilizar a Síria, numa guerra civil com cidades e vilas inteiras reduzidas a pó. Surge então o califado sírio-iraquiano a cometer genocídios alarmantes.
Em 1942, em recessão, os EUA entram em guerra. O ataque a Pearl Harbor, tão esperado por Roosevelt, converte a indústria paralisada desde 1929, em arsenal de guerra. Bilhões de dólares eram emitidos e emprestados aos aliados, gerando a “senhoriagem” universal do dólar. Com a paz em 1945, a reconversão da indústria vira os EUA na fábrica do mundo. (Europa e Ásia estavam destruídas). Intactos, credores dos aliados pelos empréstimos, dos vencidos pelas indenizações de guerra, reerguem os europeus e o Japão. Continuaram mobilizados para combater a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Foi criada uma nova ordem mundial: O Banco Mundial (fomento) e o FMI para solucionar as crises de liquidez em dólares. O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), hoje Organização Mundial do Comércio (OMC), lutava pelo livre comércio, daí o “boom” da economia americana. A CIA e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) lideram o avanço militar, enquanto o Conselho de Segurança dava-lhe o poder de vetar as resoluções da recém-criada ONU. As indústrias armamentistas e petrolíferas ganharam realce e levaram os EUA a eleger o Oriente Médio como objetivo de sua política externa. A diplomacia e atos de política exterior ignoravam os valores democráticos para assegurar os interesses dos EUA.
Nesse contexto, os EUA substituíram a França e a Inglaterra no Oriente Médio, “mandatárias” da Liga das Nações, sucessores do império otomano, derrotado com a Alemanha na 1ª Guerra Mundial (1918). As ricas monarquias da Arábia Saudita e dos Emirados foram protegidas e tornadas aliadas, apesar do fundamentalismo que proíbe as mulheres até de dirigir automóveis. Restou garantido o suprimento de petróleo. No Egito, a aliança se fez com o grupo militar pró-americano, suplantando o nacionalismo pan-arabista de Nasser. Até hoje subsidiam as ditaduras militares do Egito com milhões de dólares. (O Exército controla 65% da economia e tutela o povo.) A guerra civil no Líbano entre cristãos, xiitas e sunitas foi estimulada pelos EUA e Israel, destruindo a maior praça financeira da região, até as partes se reconciliarem, mas sem a grandeza anterior.
Os EUA, nas bases da Arábia, criaram e treinaram o Talibã contra os russos. Do Talibã surgiu a Al-Qaeda, que destruiu o World Trade Center. No Irã, segundo o National Security Archive da Universidade Jorge Washington, mediante o projeto tpajax, a CIA junto com os ingleses, em represália à nacionalização do petróleo, depuseram o primeiro-ministro Mossadegh e entronizaram o xá Reza Pahlevi, aliado dos EUA, ensejando, pela primeira vez na história, a assunção ao governo dos aiatolás xiitas.
Seria falso dizer que a guerra Irã/Iraque foi tramada pelos EUA. A teocracia iraniana e o Iraque tinham problemas de fronteira e visões políticas divergentes. O Iraque guerreou por mais petróleo. EUA e França apoiaram Saddam e lhe venderam bilhões em armas. O maior aliado do Irã era justamente a Síria. A paz, sem vencedores, deixou milhões de deslocados. Depois da matança, o Iraque seria atacado duas vezes pelos EUA; a última, ao argumento de ter armas químicas. Foi uma “guerra política” para vingar a derrubada das torres gêmeas. O país foi desarticulado. Não existiam armas químicas. O mesmo ocorreu na invasão do Afeganistão, para “caçar Bin Laden”. O país e o Paquistão foram bombardeados por aviões e drones, o que gerou 3 milhões de civis deslocados das cidades. Mas o Talibã permanece no controle de 80% do território. Bin Laden morava há anos no Paquistão, perto de um quartel.
Na Palestina, a Jordânia sobrevive com o rei pró-americano e os palestinos continuam a sofrer a sua catástrofe particular (Nakba), sob a condescendência dos EUA. Os alauitas, xiitas, cristãos, armênios, yasidis (zoroastrismo) viveram sob os Assad 40 anos em paz. A maioria sunita, em várias facções “resolveu” desestabilizar a Síria, numa guerra civil com cidades e vilas inteiras reduzidas a pó. Surge então o califado sírio-iraquiano a cometer genocídios alarmantes. O viés terrorista foi alertado por Assad, cujo defeito é ser aliado do Irã e da Rússia. É a geopolítica em jogo. Os seres humanos que se danem.
Quem são os senhores dessa insurreição? Alegar que é um levante democrático faz rir. De onde vem o dinheiro para a guerra mais pavorosa do Oriente Próximo? Os potentados da Arábia (sunitas) podem responder. O Ocidente quer derrubar Assad. O califado será melhor? (90% dos “rebeldes” o apoiam.) Destruíram um país a troco de nada ou do pior (400 mil mortos e um potencial de 4 milhões de sírios desesperados engrossam o caudal de imigrantes para onde há paz e negócios).
Mas no campo de batalha, o povo curdo da Síria e do Iraque defende a região onde vivem há 4 mil anos. Os “pershemegas” são os medos do antigo império medo-persa. Reconhecer o Curdistão é dever do Ocidente, que não derrota o califado pelo ar. E dizer que essa região viveu 350 anos de paz e sossego sob o império otomano!
Faça seu comentário