O sr. Janot devia estar investigando com maior afinco os suspeitos da Operação Lava-Jato com foro privilegiado (inexistente nos EUA, de onde copiamos o congresso bicameral e o presidencialismo). Quem investigou Nixon foi um juiz federal, como Moro. O Brasil vem de uma monarquia elitista e de uma República, ao contrário do EUA, comandada pelo setor agrário, lá destruído na guerra de secessão. O poder presidencial e os senhores parlamentares foram cercados de prerrogativas e protegidos por uma redoma constitucional que nem o getulismo trabalhista nem a burguesia constituinte de 1988 quiseram romper.
Espera-se que, reconduzido, honre seus predecessores, desfazendo os boatos solertes de seu envolvimento com o que há de podre no governo da República. Denunciou – dizem que apressadamente – Cunha e Collor, mas, quanto a Gleisi Hoffmann, só para exemplificar, bem como ao restante do mundo oficial, salvo inimigos como Cunha e agora o Paulinho da Força Sindical, nada se investiga, com ações mais incisivas. Isso é ruim para a reputação do Ministério Público.
Noticiam-se encontros dele com o ministro da Justiça e o presidente do Senado. Nada provam, e são normais, mas engrossam a boataria. O procurador-geral tem o domínio das ações contra os poderosos. Deve, necessariamente, ser impoluto, acima de qualquer suspeita, como os juízes do Supremo. Estou certo que será.
As notícias dos jornais diários são aterradoras. O Tribunal de Conas da União (TCU) cada vez mais concede prazos a Dilma para explicar-se. O doleiro Alberto Youssef disse acreditar, durante acareação na CPI da Petrobras, que tanto Lula quanto Dilma sabiam das propinas. Esclareceu que brevemente se saberá pela boca de outro delator que Palocci arrecadou R$ 2 milhões para a campanha de Dilma. A sua vez, a glamorosa e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann liga-se a empresas-fantasmas supostamente prestadoras de serviços, inclusive um escritório de advocacia a ela ligado e ao seu marido, que repassaram dinheiro sujo às campanhas petistas. O juiz Moro destacou do processo essas partes e remeteu-as ao ministro Teori, relator do processo contra os poderosos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Um tal advogado Gonçalves, militante do PT, ajudou Gleisi nas campanhas de 2008 (prefeita), 2010 (senadora) e 2014 (governadora do Paraná). Alegou que o dinheiro que recebia da empresa Consit, ligada ao então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, marido dela, era usado para pagar despesas de clientes.
Desde quando advogado que se preze paga – como despachante – despesas de clientes? Descobriu-se por meio da Polícia Federal que a Consit repassou R$ 7 milhões (9,6% do seu faturamento líquido) para pagar despesas da senadora, a pedido de um tal Romano, do PT, réu confesso.
A conclusão a tirar é que pau que dá em chico dá em Francisco. A senadora não é denunciada. O povo brasileiro, novamente, vive um suspense, à espera de que o procurador-geral, em seu nome, denuncie os poderosos. Está faltando muita gente.
Quem está a merecer admiração é o zeloso ministro Gilmar Mendes, do STF, que pediu que o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) apure mais uma suspeita de irregularidade na campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Segundo relatório técnico elaborado pela Secretaria da Fazenda paulista, a empresa de ngela Maria do Nascimento Sorocaba – ME, aberta em agosto de 2014, dois meses antes das eleições, emitiu notas fiscais que somam R$ 3,683 milhões. Desse montante, R$ 1,651 milhão estavam em nome da campanha. Além de números sobre a microempresa, o documento traz dados sobre a Focal Confecção e Comunicação Visual – segunda maior fornecedora da campanha presidencial –, que recebeu R$ 24 milhões dos cofres petistas. Terminadas as eleições, as empresas sumiram no ar.
Na sexta-feira, ele pediu que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apure eventuais crimes cometidos durante a corrida presidencial. Segundo ele, há “vários indicativos” que apontam o financiamento da campanha e do PT com dinheiro desviado do esquema de corrupção na Petrobras. O procurador-geral, porém, achou excessivo o pedido.
Ora, quatro votos dos sete do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acompanharam o relator. Vivemos um tempo de atribulações, mas tudo indica que ninguém mais está acima da lei e longe da prisão, nem Lula. Ave Moro, Ave Mendes! Espero dizer também Ave Janot!
O Ministério Público, pela palavra do procurador-geral da República, não se afastará dessa linha, que, longe de beligerante está conforme a justiça que, a Nação aspira, por saber da necessidade de punições exemplares aos poderosos. O povo sabe por intuição que os castigos e – antes deles – as denúncias do procurador-geral são essenciais para a moralização dos costumes políticos. Agir não por vingança, mas impelido pelo dever cívico e a justiça é o que a nação dele espera. Estou certo que não nos decepcionará.
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