Como sabido, os iranianos ou persas, assim como os curdos, são arianos, a mesma raça branca dos gregos, germanos, latinos e eslavos. A assertiva não é gratuita, visa a separá-los dos povos turcos, falantes de idioma asiático, do ramo mongol e dos povos semitas (judeus e árabes) falantes de idiomas cujo berço é norte-africano, marcadamente da Etiópia, no Chifre da África. O que os une e desune é a religião. Exceto Israel e seu judaísmo, os demais são muçulmanos (turcos, árabes e persas). A desunião advém do fato de o Irã ser 95% xiita (80 milhões de habitantes, grande extensão territorial, terras férteis e enormes reservas de minerais e de hidrocarbonetos; petróleo e gás), enquanto a Turquia e os demais países árabes são sunitas, predominantemente.
O eixo xiita é composto pelo Irã, 60% da população iraquiana, 20% da população síria e 35% da libanesa, uma linha que vai do golfo pérsico até o Mar Mediterrâneo, além de minorias noutros lugares. A Turquia é sunita, mas secular. Kemal Atatürk, o pai da Turquia republicana, militar de carreira, impôs ao país o alfabeto ocidental, o regime parlamentar, uma constituição moderna e o Estado laico, que tanto agrada o povo como desagrada o governante Erdogan, um sunita que, se pudesse, imporia a Sharia (lei religiosa) no país. Teme que, se a juventude iraniana, onde as mulheres são maioria nas universidades, sacudir a tirania teocrática dos aiatolás (sequer viveram a revolução islâmica), o país vizinho será o mais ocidentalizado e poderoso da região. Torceu o nariz para uma Pérsia renovada, que tenderá, inevitavelmente, para o Estado laico.
Outros descontentes são as milionárias monarquias autocráticas da península arábica, tendo à frente a Arábia Saudita (da família Saud). Esses, além de fanáticos waabitas, a base fundamentalista do sunismo, possuem muito dinheiro, muito petróleo, areia e nenhuma consideração pelas mulheres, que sequer podem dirigir automóveis, cobertas de preto da cabeça aos pés. Guardam os santuários de Meca e a pedra preta (caaba), onde Maomé teria expulsado os demônios, como Jesus também teria feito nas montanhas do deserto. Estão separados do Irã apenas pelo golfo pérsico, daí a rivalidade. Estão raivosos com o acordo, apesar de aliados dos EUA.
Israel (e sua ala direita) é o mais inconformado. Diz que o Irã quer “varrê-lo do mapa”. Não o Irã, certamente os aiatolás, que são passageiros. Nenhum povo na história dos judeus os protegeu e acolheu como a Pérsia, durante Ciro, o Grande, e depois dele, a ponto do profeta Isaías tê-lo como o ungido (o Messias libertador). Confira-se: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir o lombo dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão. Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro”. (Isaías 45:1,2).
Ora, o acordo impede a nuclearização bélica do Irã por 10 anos. Todavia, o que preocupa o mundo (e o presidente de Israel) é o extremismo dos religiosos fundamentalistas judeus. Deram de incendiar casas e crianças palestinas em nome de deus.
Em verdade, a energia nuclear é um direito do Irã, para fins medicinais, geração de energia e outros usos. Será que alguém neste mundo é idiota a ponto de acreditar na bomba atômica suicida do Irã? Ele soltaria uma e receberia dez em questão de segundos. Israel tem antimísseis e arsenal de 200 bombas atômicas estocadas (segredo de polichinelo). Além disso, em Israel vivem quase 2 milhões de muçulmanos.
Como disse Obama, um estadista, foi apagado um foco de conflitos. E retirado dos belicistas o motivo para crucificar o Irã, atacá-lo com supostos argumentos de legítima defesa. A retirada das sanções, a seu turno, trará àquele povo chances de melhorar o padrão de vida da população, fixando mais um “player” na luta contra o Estado Islâmico sunita e seus diversos grupos terroristas (Talibã, Al-Shabab, Boko-Haram, Al Qaeda et caterva).
Espera-se que o Irã se junte a firmas ocidentais, russas e chinesas, para renovar sua infraestrutura, e que a nova relação com o mundo nos traga de volta o Irã laico que sempre foi. Durante 12 séculos, os mulás xiitas jamais conseguiram dominar o Estado. Ao derrubar o advogado Mossadegh do poder e entregá-lo ao xá do Irã no exílio, os EUA permitiram, 20 anos antes do século 21, que o governo persa se tornasse uma teocracia com Khomeini, um desserviço à humanidade. Obama iniciou a reparação do erro. O povo iraniano fará a reconversão do Estado à laicidade, questão de uns dois lustros mais à frente. Os terroristas sunitas, financiados pelos magnatas da península arábica e pela Irmandade Muçulmana, estão temerosos de um Irã afinado com o Ocidente. Ao Brasil, interessa a paz mundial.
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