Conheci Israel há uns sete anos. Éramos um grupo de professores universitários e jornalistas. Fiz todos os passeios comuns aos turistas. Éramos protegidos por escolta armada. A diferença é que fomos ao parlamento, à Suprema Corte e às universidades de Telavive e Jerusalém, fizemos seminários e participamos de palestras (há muita gente a favor da paz em Israel contra o partido Likud e sua coalizão). Ouvimos, ainda, a “Associação a favor dos Direitos Civis em Israel”, pois, dentro do Estado religioso judeu, vivem 1 milhão e meio de palestinos de nascença, muçulmanos e cristãos, como cidadãos de 2ª classe.
A impressão que me ficou no espírito foi de ódio e inquietação, principalmente em Jerusalém. Os anciões árabes do grande mercado nos disseram que, sob o domínio otomano, havia dificuldades, mas as comunidades árabe e hebraica conviviam em paz. Tudo isso acabou com a recriação do Estado de Israel (80% dos judeus, cerca de 25 milhões, jamais voltarão para lá, especialmente os da América).
Por falar na criação pela ONU de Israel, cabe dizer que, desde a captura do rei Joaquim pelos babilônios no século sexto antes de Cristo, os judeus nunca mais tiveram um Estado nacional. Viveram sob assírios, babilônios, persas (Irã), gregos e romanos. Estes últimos destruíram o templo de Javé, arrasaram Jerusalém e expulsaram os judeus da Palestina no início do século segundo depois de Cristo. Desde então passaram-se quase dois milênios e havia paz na região até a derrota do Império Otomano na 1ª guerra mundial e da chegada do protetorado britânico, contra o qual os sionistas fizeram ataques terroristas para minar a proibição da migração clandestina e ilegal de judeus para a região.
Dizem por aí que foi o brasileiro Osvaldo Aranha, então nosso representante na ONU, pelo voto de desempate, o criador de Israel. É demais, mas seu papel foi decisivo. Sem ele inexistiriam Israel e os morticínios na região que tanto horrorizam o mundo. Para a criação do novo Estado de Israel em 1947, eram necessários 2/3 dos votos da Assembleia Geral, que, na época, contava com 57 países membros, ou seja, 38 votos (difíceis de obter).
Osvaldo Aranha, presidindo a Assembleia Geral, desencadeou grande manobra diplomática para adiar a votação, dando tempo aos sionistas, aos magnatas judeus da América e aos EUA para convencerem, de um modo ou de outro, os países recalcitrantes a assinarem a criação de dois Estados (judeu e árabe-palestino) ou se absterem, de modo a reduzir o quórum de 38 votos. Haiti, Libéria e Filipinas, antes contrários, decidiram a parada pró-Israel (gigantes diplomáticos, certamente).
Como os votos válidos se faziam pela soma dos contrários e favoráveis a exigência de 2/3 necessários à aprovação passou a ser de 30 sufrágios. A articulação de Aranha surtiu efeito. Três dias depois, 33 votos favoráveis sob sua batuta criava o Estado de Israel. O Estado judeu lhe construiu praça e estátua em agradecimento.
Agora, o porta-voz de Israel, pelo fato de o Brasil chamar nosso embaixador para consultas, num desses acessos de ódio e agressividade com que se conduzem, chamou-nos de anão diplomático e ridiculamente fez imbecis comparações sobre a teoria das proporcionalidades entre coisas não comparáveis (futebol e matança de pessoas).
A bíblia judaica (Torá) diz que deve ser olho por olho, dente por dente. O governo de Israel (Executivo e Legislativo) vai além. Por uma vida israelense matam 200, 300, 1 mil civis palestinos, mulheres, crianças ou idosos, pouco importa. Aprenderam isso com os algazes alemães nazistas na luta contra a resistência francesa? Para cada soldado alemão emboscado pegavam aleatoriamente 10 franceses civis executando-os publicamente.
Prefiro crer em algo mais profundo. O que esperar de um governo violento, religioso, ultraortodoxo, que ainda acredita existir um Deus só deles, com exclusividade, contrário a qualquer povo que lhe atravesse o caminho, como certas tribos da Polinésia? No deuteronômio, em dezenas de trechos, o vemos irascível a comandar pessoalmente chacinas, genocídios, guerras de conquista com um ódio e violência implacáveis.
Segundo os judeus religiosos a Torá é Deus: “O nosso Deus é o Deus que salva; ele é o Senhor, o Senhor nosso, que nos livra da morte. Ele partirá a cabeça dos seus inimigos, daqueles que teimam em permanecer nos seus pecados. Deus, o Senhor, nos disse: “Eu trarei os inimigos de vocês de volta do monte Basã. Eu os farei voltar das profundezas do mar para que vocês se banhem no sangue deles e os cães de vocês possam lamber sangue à vontade”. (Salmos 68.20-23)
Esta cena é de indizível terror. Até os cães beberão o sangue dos inimigos de Israel. Certamente a violência deuteronomista inspira o Israel moderno. Os EUA são diretamente responsáveis pela matança. Vetam sempre o cumprimento das resoluções da ONU e das sanções ao Estado judeu.
Faça seu comentário