O assassino italiano Cesare Battisti não foi extraditado. O senador boliviano, por não ser esquerdista, será?
Lavaram as mãos como Pilatos e botaram a culpa na Casa dos Saboias, uma família de grandes homens, sempre a serviço da pátria, desde os tempos do Império. De quebra, destituíram o insignificante chanceler Patriota, o pior que já tivemos. Mas o seu humilhante pedido de exoneração foi compensado, vai ser adido em Washington, no circuito Elisabeth Arden, onde tem casa e mulher. Nada mal. O episódio farsesco também teve visíveis doses de ridículo. Os comunistas do PSTU e do PSOL, para comprovar a tese de que são débeis mentais, solidarizaram-se com o flamante embaixador boliviano a exigir “explicações do Brasil”, em nome da “soberania boliviana”. São uns pândegos. O baby senador Randolfo, boquirroto como sempre, mal cabia em suas roupinhas, todo “rampli de sòimême”.
Vamos aos fatos. Dilma já estava farta das insinuações de Evo Morales para uma solução “às escondidas”, ele não daria o salvo-conduto a que estava obrigado pelo Tratado de Caracas, mas faria vistas grossas a uma atitude unilateral do Brasil, o que, no limite, seduziu nossa embaixada em La Paz, mesmo sem o sim categórico do pusilânime chanceler destituído. Fontes fidedignas relatam que o senador estava isolado na embaixada desde 28 de maio de 2012, quando ali chegou dizendo-se perseguido político, após ter denunciado a ligação de membros do governo boliviano com o narcotráfico. Ele responde a 20 processos judiciais feitos sob medida. A presidente Dilma concedeu-lhe asilo político, mas o governo boliviano se negava a dar-lhe um salvo-conduto. Essa é a prima parte.
O Itamaraty, alertado pelo diplomata Eduardo Saboia sobre a possibilidade de uma operação para a retirada do senador Roger Pinto da embaixada do Brasil em La Paz, onde estava confinado havia mais de 450 dias, ficou silente. O aviso foi feito na semana passada, “após funcionários da embaixada terem notado o agravamento do estado de saúde do senador, que não se alimentava, nem se barbeava e, havia dias, vinha falando em cometer suicídio. A embaixada encaminhou a Brasília um laudo médico que apontava diversos problemas de saúde: candidíase (enfraquecimento do sistema imunológico), perda de apetite, taquicardia, dificuldade respiratória, pressão alta e síndrome depressiva”, sem que isso sensibilizasse a nossa ex-guerrilheira, curtida no DOI-Codi.
É difícil acreditar que o bom Saboia tenha armado sozinho, sem algum estímulo, fuga tão improvável, segundo apurou o jornal El Pais, da Espanha. Saboia teria dito: “Não nos pediram documentos nem na fronteira. Nós passamos ao meio-dia, porque é a hora que tem mais movimento, e ninguém pediu nada”. Ora desde a chegada do senador Pinto à embaixada, a representação diplomática brasileira era fortemente vigiada do lado de fora por “arapongas” bolivianos. A embaixada interpretou algumas declarações bolivianas como “estímulo à opção pela fuga”. Em 23 de julho, o vice-presidente Álvaro Garcia Linera disse “que o senador era livre para caminhar pelas ruas de La Paz, sem nenhum problema, visitar a polícia, tomar um café”. Três dias depois, o chanceler David Choquehuanca afirmou que “o Brasil é quem decide se dá ou não (o asilo) e tem todos os mecanismos para fazer cumprir essa decisão como país soberano”.
Ele era um preso sem direito de tomar sol, receber visitas e ir à missa. Nossa embaixada era a sua prisão. O bom Sabóia tem razão em se considerar um carcereiro, o senador estava definhando sob a sua custódia. Ele não disse que a nossa representação em La Paz era como o DOI-Codi. Apenas fez analogia sobre serem carcereiros os que cuidam de enclausurados. Comparou o sofrimento do senador ao de Dilma, que se revoltou. A presidente exagerou na resposta. Chefes de Estado não batem boca com seus funcionários, mormente quando eles têm razão.
Essa camaradagem com a Bolívia denigre o Brasil: tomam nossas refinarias “manu militari”, roubam nossos carros e nos entopem de crack e cocaína. Nossa fronteira com esse país é maior que a dos EUA com o México. Lá há disposição, vontade e vigor. Aqui não, é só leniência, ineficiência, despreparo e a retórica vazia do compadrio ideológico.
Enquanto isso, a família do senador boliviano no Acre e a do nosso Saboia em La Paz temem as consequências das ações negligentes do Brasil de Dilma Rousseff. Reza a Constituição no artigo 4º que a República rege-se nas relações internacionais pelos seguintes princípios (omissis) “X”: concessão de asilo político.” Isso é que importa. O assassino italiano Cesare Battisti não foi extraditado. O pobre senador boliviano, por não ser esquerdista, será?
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