Todos os políticos de todos os partidos, em todos os níveis, estão na alça de mira. Mudem e mudará o país. Nosso problema é de caráter.
Engana-se o sr. Erdogan ao comparar a situação no Brasil ao que se passa na Turquia. As manifestações nesse país são para manter o Estado laico, ameaçado por Sua Alteza, e impedir o avanço da teocracia islâmica. Nos países árabes sob ditaduras, são para se aproximar, ao menos, do modelo turco. Nos EUA, o “Occupy Wall Street” foi para protestar contra a concentração da renda e o desemprego (1% dos americanos apropriam-se de 40% da renda nacional: Wall Street, o complexo industrial-militar e as petroleiras). Na Espanha e na Grécia, protesta-se pelo emprego perdido e a crise econômica deflagrada pelos derivativos, e o que se perdeu com isso, por causa da ganância dos bancos. Aqui, os protestos são contra um Estado que não funciona, rouba do povo e é corrupto, não entregando o esperado bem-estar social, em troca da alta carga tributária imposta a todos.
Temos péssima governança, a desvergonha sem freios dos corruptores e corruptos, educação e saúde sem comentários, mobilidade urbana nula, absoluta falta de infraestrutura e um sistema político falido. Esse caldo de cultura fez com que o aumento da tarifa de ônibus urbanos catalisasse a insatisfação acumulada pelas classes “A”, “B” e “C” (urbanas) e os jovens estudantes, os primeiros a ir às ruas, aglutinados pelas redes sociais. Os alvos são o sistema político, governos, partidos e a qualidade da nossa democracia representativa.
Recente pesquisa mostra as causas da irritação social que o mundo inteiro assiste atônito e nós assustados: (a) corrupção, 53%; (b) PEC 37 contra o poder de investigação do Ministério Público, visto como manobra dos políticos corruptos, 49%; (c) melhorias na educação, 48% e no sistema de saúde, 38%; (d) prisão para os corruptos do mensalão com 28% e; (f) os gastos enormes da Copa de 2014 com 23%. Como concluir que não há bandeiras definidas? Querem os críticos do movimento que eles resolvam os problemas? “A pauta é difusa”. E daí? Cumpre ao povo despertar e reivindicar mudanças com base nos direitos constitucionais de reunião e expressão (porque grande parte da mídia recebe publicidade do governo e não o ataca). À política cabe resolvê-los.
Quanto aos partidos são condenados: PT, 33%; PSDB, 4%; todos, 58%. As instituições “culpadas” são: Congresso Nacional (70%); governo federal (58%); governos municipais (49%); governos estaduais (47%), as igrejas (26%); polícia (24%). (Fonte DIPM da Abril).
Quanto aos baderneiros, é preciso prendê-los e processá-los. Bater em inocentes ou feri-los com gás e balas de borracha é o que não se admite. E tem acontecido (polícia despreparada). As pessoas das classes “A”, “B” e “C” concentradas nas regiões metropolitanas e cidades médias estão com raiva, com medo (insegurança), não creem no governo e estão fartas de tanta corrupção, jogadas políticas, a ineficiência, discursos de marqueteiros e poucas ações, salvo para a Copa (circo). O “pão”, é claro, assegura votos. Mas onde? Nas classes despolitizadas “D” e “E”, a viverem nas periferias, nos grotões de pobreza, nos vales miseráveis, nos agrestes nordestinos castigados pela extorsão política, hoje substituída pelo “coronelismo petista” e suas mesadas permanentes (bolsas). Falam pela boca de Pelé: “Vamos esquecer toda essa confusão e apoiar a Seleção”.
Senhora presidente, aquela vaia no circo foi inesperada, certo? Entregue, por favor, à iniciativa privada, por concessão, delegação, seja lá como for, toda a atividade econômica em nosso país (Artigo 170 da CF). É preferível à incompetência do Estado. O Brasil está por ser feito e V. Exa. não tem dinheiro para isso. Se gastar menos com a máquina pública já está bom. E não fique mudando as regras econômicas, cria insegurança.
O povo nas ruas está como que votando. O STF mandou prender o deputado Donadom e prenderá os mensaleiros. O ministro Barroso disse: “O mensalão é página virada, precisamos avançar”. O Congresso não ousará deter Marina Silva nem subordinar o Supremo nem votar a cura gay do deputado Feliciano e já detonou a PEC 37, tornou crimes hediondos a corrupção ativa e passiva, a concussão, o peculato, o excesso de exação dos funcionários públicos e o homicídio. Para cassar parlamentares o voto agora é aberto (era secreto, oportuno). A Agência Nacional de Transportes Terrestres suspendeu o ajuste das tarifas. O processo de fixá-las contará com representantes eleitos dos usuários. Devia ser assim em todas as agências reguladoras. V.Exa ficou com a pior parte, o tal plebiscito (ou referendo) já de fora a ideia de uma Constituinte limitada para operar a reforma política, um mar de disceptações. Para finalizar, devo dizer (era assim que o dr. Ulisses falava) que todos os políticos, de todos os partidos, em todos os níveis, estão na alça de mira. Mudem e mudará o país. O nosso problema é de caráter. O povo merece respostas funcionais, base que é de todos os poderes da República.
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