Senhora presidente

Sua popularidade é superior até a de Lula. Conduza ao revés de ser conduzida ou cooptada ou induzida ou empurrada. Inaugure a era Dilma.

Como brasileiro, desejo que a senhora nos conduza a porto seguro em favor dos meus pósteros, entre os quais os meus descendentes, daí a ousadia do presente artigo. É simples. Não existem caminhos. Existe o caminho.

Deixe-me dizer, antes, o que nos aconteceu recentemente. Em primeiro lugar, o país cresceu por uma constelação de fatores que desapareceu dos mapas zodiacais, a saber: aumento da renda acima da produtividade da economia; expansão vigorosa do crédito (foi de 17% do PIB e já bateu em 52%); financiamento externo farto e barato; alta das commodities agroindustriais e minerais, como jamais se viu neste país; utilização da capacidade instalada da indústria (chegou ao pico de 91% e hoje estacionou em 80%). Nos últimos 15 anos, tivemos a ventura de encontrar os balanços dos bancos, das empresas e das famílias brasileiras, após a estabilização da economia (Plano Real) em situação enxuta, propícia ao endividamento. Durante cinco anos, até 2010, o governo Lula surfou na crista de ondas havaianas, salvo umas marolinhas em 2009. Portanto, é imperioso compreender que o mundo mudou. Não adianta empurrar o consumo. O endividamento passado gerou a inadimplência atual, justo agora em 2012. E essa conversa de que o endividamento dá safras é enganosa, se parece mais com um carrossel. Em suma, nossos problemas são estruturais em vez de conjunturais.

Em segundo lugar, cabe agora iniciar novo ciclo. Gastar menos e investir mais, diminuir o tamanho do Estado e aumentar sua eficácia profissional, uma das piores do mundo, priorizando o artigo 170 da Constituição: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna”. V. Exa., tão competente, dos R$ 82 bilhões previstos no orçamento só realizou R$ 17 bilhões. Faltou o quê? Gestão! Com a livre iniciativa resolveremos a questão do crescimento econômico e social. Nenhum Estado socialista economicamente deu certo. Veja Cuba, Coreia do Norte, Albânia, Burma e, em menor escala, a Venezuela. A Rússia deveria há muito estar ombreada com os EUA. O comunismo atrapalhou. A China soube safar-se. Em 30 anos, mudou e mudou o mundo.

O maior desafio é a infraestrutura, que, nos próximos anos, vai demandar até US$ 1 trilhão em investimentos. A poupança interna será insuficiente e será necessário capital externo. É preciso ter as regras do jogo claras e previsíveis. É importante melhorar a qualidade do ensino e fazer reformas estruturais, principalmente microeconômicas, para reduzir entraves burocráticos, logísticos e legais. A competitividade não é uma questão cambial, é mais que isso. É preciso mudar a estrutura de custos, começando pela carga tributária e pelos encargos trabalhistas. O tempo que se perde no trânsito ou as dificuldades para abrir uma empresa, alugar um imóvel, abrir uma conta é um desperdício de crescimento. A economia mundial não terá tão cedo outro ciclo próspero como o que nos beneficiou na década passada até 2007. A economia precisa de uma redução linear de impostos, para liberar recursos para o setor privado investir, e não de mudanças pontuais.

O único jeito de fazer isso sem desequilibrar as contas públicas é diminuir o Estado. Há uma enorme demanda no exterior para participar de investimentos em infraestrutura no Brasil incluindo a China, que faz bem, rapidamente e barato. E não só fundos soberanos e de private equity, mas empresas, muitas que nunca tiveram contato com o Brasil, mas querem investir. Para garantir a entrada desses recursos, é preciso ter as regras do jogo claras e previsibilidade tributária. E também facilitar a execução das obras. A questão ambiental é importante, mas os processos burocráticos atrasam investimentos até por alguns anos. Com a redução sustentada da taxa de juros, os investidores terão de procurar não só a bolsa, mas também ativos de crédito. Isso vai desenvolver o mercado de títulos corporativos, que hoje tem uma negociação muito pequena no mercado. O mercado imobiliário também vai crescer, o crédito já aumentou, mas deve haver mais securitização e títulos negociáveis, mas sem tranches podres como nos EUA. Entra aqui em cena o Estado regulador.

Senhora presidente, faça uma clara opção pela economia de mercado e livre-se do PT, essa mala pesada de corrupção, hoje sedento de poder pelo poder, sem charme, pelo contrário. Conduza ao revés de ser conduzida ou cooptada ou induzida ou empurrada. Sua popularidade é superior até a de Lula. Inaugure a era Dilma. O PT e o governo gigante, com suas conhecidas ambiguidades e penca de defeitos, estão atrasando o Brasil. Deixe-os na poeira dos caminhos. O mundo mudou. Com a social-democracia ninguém precisa ou merece o PT, seu Estado clientelista e corrupto, repartido entre aves de rapina, os partidos “da base”.

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