O PT e o mensalão

Os próceres do PT não querem admitir que um grupelho – não todos – cometem crimes corruptores da República. Vou explicar-lhes como a sociedade vê o mensalão, fartamente divulgado pela mídia. O Supremo reconheceu todo o fundamento da acusação feita pela Procuradoria-Geral da República: houve dinheiro público desviado, misturado a empréstimos bancários fraudados, distribuído sem conhecimento do Banco Central e do órgão de inteligência financeira do governo, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

A conclusão complica a situação dos políticos que autorizaram os repasses e receberam os recursos, ao colocá-los como beneficiários de um esquema que usou dinheiro de origem ilícita e distribuído “nas sombras”. Se o Banco do Brasil do diretor Henrique Pizzolato, via Visanet, a Câmara dos Deputados via João Paulo Cunha, todos já condenados, alimentaram o valerioduto, alguma finalidade ele haveria de ter: levar o dinheiro a algum lugar, de maneira dissimulada.

“O dinheiro é, para o crime, o que o sangue é para a veia. Se não circular, não temos esquemas criminosos como esse. Há necessidade de que existam instituições financeiras que se prestem a situações como essa”, argumentou a ministra Cármen Lúcia.

Gilmar Mendes disse que o esquema é “mais complexo do que isso”, em referência ao uso do termo “valerioduto” pelo colega José Antônio Dias Toffoli. “Só com um reducionismo muito forte se poderia falar em valerioduto. A rigor, é um sistema muito mais complexo, e envolve a participação de autoridades e agentes públicos. Esse corpo, ‘valerioduto’, precisava de alma.”

A lavagem que passava por um banco tinha o objetivo de branquear dinheiro sujo. As empresas de Valério emitiam, endossavam e sacavam os cheques. E isso era informado ao BC e ao Coaf. Beleza. Dissimulação. O BC e o Coaf não ficavam sabendo dos verdadeiros recebedores do dinheiro ilícito, tanto que, após receber instruções de Delúbio, Marcos Valério passava um fax, dizendo que após o saque o “dinheiro vivo” devia ser entregue a fulano ou beltrano ou a um sicrano que eles indicassem (os reais destinatários do dinheiro ilícito, espúrio, roubado). Esses recebiam o dinheiro para votar com o governo ou pagar contas.

E, o Delúbio, mero tesoureiro – sem trânsito no Congresso Nacional –, como ficava sabendo quem deveria receber para informar Valério? Tinha bola de cristal? Evidentemente os “articuladores políticos” do seu partido, o PT, lhe passavam as mensagens informativas. Ora, era para ajudar o Dr. Luizinho. Ora era para João Paulo fazer pesquisa em Osasco, ora era para que os próceres de outros partidos distribuíssem benesses entre os seus para que votassem em matérias do interesse do governo, ora era para gastar mesmo, botar no bolso, furtar a República. O destino ilícito ou até lícito do dinheiro não interessa ao tipo penal. O relator, com base na acusação, tem agora que mostrar os beneficiários, e sobretudo escancarar a “alma” que animava o esquema todo. Ela tem nome, aliás dois: José Genoino, no partido, e José Dirceu, este último o articulador político por excelência do governo Lula.

É como disse o ministro Ayres Britto, embora examinado por trechos (ou fatias), mérito do relator, “da nascente à foz, um rio é o mesmo rio”.

Com essa o PT não contava. Com a quebra da impunidade levada a efeito por ministros do STF por Lula indicados. Mas eles são dignos e não lacaios da máfia partidária. Honram as funções que exercem. Foi um erro primário desmerecer o caso, batizá-lo de “caixa 2” e contar com a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal absolver os réus do mensalão.

O que quer agora o PT? A impunidade? A indecência política? Ou são políticos dúbios ou sem apreço pela ética gritando a inexistência da ilicitude e inocência para continuar no poder? As duas coisas e mais outra. Estão pretextando inocências para amenizar o impacto do mensalão nas urnas, sabedores de que o povo, por mais desinformado que seja, registra o essencial, no caso, “a alma” do PT, ela que um dia perdido no passado proclamava a ética na política mas hoje está no banco dos réus. Simbolicamente à frente de todos eles assenta-se o ex-presidente Lula, por ter concordado com o esquema inteiro e por defendê-lo até os dias de hoje, tisnando sua biografia e desmerecendo as altas funções do Supremo Tribunal Federal.

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