Nossa cidade

Nosso governador deve pôr a mão na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Agora mesmo.

O Brasil talvez seja – depois da Rússia, que só tem olhos para as lindíssimas Moscou e São Petesburgo – o país que tem o governo mais centralizado do mundo. A China, em que pese a sede do Partido Comunista achar-se em Pequim (ou Beijing), cuida por inteiro do país. Foi e é, o único Estado nos dois últimos séculos a fazer o êxodo rural sob controle, de forma planejada, mesmo sacrificando a liberdade irrestrita de ir e vir. Ao cabo são 1,38 bilhão de pessoas. É um exército gigantesco a movimentar-se, daí o deslocamento planejado e a política do filho único. Fosse espontâneo o êxodo e teríamos lá o quadro daqui: 476 favelas em São Paulo e 432 no Rio, sem falar nas cidades, mais de 80, de BH a Campinas, Brasil afora, com os morros apinhados de cidadãos sofredores a mostrar as nossas desigualdades gritantes, frutos do êxodo rural.

Tenhamos sob a mira uma só questão: a da mobilidade urbana. O poder municipal queda-se atônito, descartadas as soluções óbvias e tópicas, para resolver o trânsito diário. E não me venham com a tese de sermos os proprietários de carros os responsáveis. A uma, todo mundo quer tê-los e a maioria está optando pelas motocicletas. A duas, assim é porque os transportes coletivos são horríveis, não funcionam ou funcionam mal e, principalmente, não são criadas vias novas ou reavivadas as em desuso. Por mais que alargadas, intrincheiradas e alteadas em viadutos curtos, não há como aumentar o número de veículos diariamente e mantê-los trafegando a duras penas nas mesmas vias. A coisa é aritmética.

Os nossos problemas, as nossas circunstâncias se desenvolvem nas cidades, ninguém mora na União, mas os recursos estão lá, centralizados, em parte de propósito, em parte pela evolução de um país cuja tradição desde a Colônia, passando pelo Império e desembocando na República, sempre foi a do centralismo, de fora parte os espasmos, às vezes, violentos, dos movimentos regionalistas e até autonomistas. Semana passada, a imprensa noticiou 10 estudos encomendados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para melhorar a vida das milhares de pessoas a se deslocarem do trabalho para casa, da casa para o trabalho, faça chuva faça sol, ouvindo a propaganda de ser aqui o melhor local para se viver. Como remarca Marcos Coimbra, em sua coluna, apenas 32% da população tomou conhecimento da pouca vergonha do Antonio Palloci, Dilma Rousseff saindo ilesa do episódio. Não há tempo a perder. O povo ignora porque, obviamente, tem mais coisas a fazer. É ignorante por ser obrigado sê-lo. Mas quando se trata de um sofrer diário, a coisa é diferente. O que dói na pele e na alma fica, arde, não é ignorada.

Os tais 10 estudos somente falam dos meios (BRTS, metrô et caterva) sempre nas mesmas vias. Não se fala de estações, do bem-estar do povo, apinhado nos pontos, faça sol, faça chuva, sem proteção, nem tampouco das alternativas viáveis, aqui e agora. Três delas são óbvias. As velhas ligações de Nova Lima precisam ser modernizadas urgentemente. Uma vem de lá e sai no Bairro Pompéia, na Avenida dos Andradas. Essa mesma, na direção do Rio, sai perto do trevo de Ouro Preto. Quem está em Nova Lima e quer a direção do Rio ou o Leste de BH não precisa passar pelo trevo do Belvedere. À altura da Petrobras e da Fiat, reavive-se, agora com o nome de rodoanel, a passagem entre o caminho de São Paulo em direção ao caminho de Sete Lagoas, Neves e Brasília. O trecho seguinte é alcançar a problemática via que leva ao Vale do Aço e ao Nordeste do país. Esse arco é vital para desafogar o Anel Rodoviário tornando-o anel urbano, com saídas decentes para os bairros, livre dos caminhões e ônibus pesados. Há estudos prontos.

A questão é: quem decide? A China está unindo megalópoles para facilitar a entrega dos deveres do Estado em prol dos direitos públicos subjetivos ao transporte rápido, à segurança, à beleza, ao ar puro, à saúde, à educação, ao esgotamento sanitário, ao lazer. Nós pensamos à moda antiga, cidade por cidade, ainda que courbanadas. E os meios necessários? Ao que eu saiba não há, em nível da União, um órgão de planejamento das regiões metropolitanas como previsto na Constituição. A política social do PT pensa nos “excluídos”. Não tem visão de futuro. Em Minas, tínhamos o Cedeplar e o esforço de Paulo Haddad, ex-ministro da Fazenda, hostilizado pelo eixo São Paulo/Rio de Janeiro. Ali pensavam cidades – polo e zonas metropolitanas. Belo Horizonte é a sexta cidade do Brasil, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Fortaleza, mas nucleia a terceira região metropolitana do país, com cerca de 4,2 milhões de habitantes. É tempo de ser metrópole e não apenas cidade, apertada pelo seu entorno. Nosso governador deve pôr a mão na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Agora mesmo.

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