Nascimento do catolicismo

Constantino foi, de fato, o primeiro “chefe” do cristianismo, o Sumo Pontífice, (papa). Promoveu o primeiro Concílio ecumênico (325 d.C.) e sob sua autoridade criou-se a fórmula do Deus-trino (credo de Niceia) como lei imperial.

No Gênesis e no dilúvio babilônico, o Deus do bem e a Deusa serpente do mal lutam no Cosmos. O Deus bom quer o bem dos homens; e Adão, antes de conhecer Eva, casa-se com Lilith, que se rebela, não aceitando o domínio masculino, por inspiração da Deusa. É um mito de transição. No dilúvio babilônico, uma Deusa má, Tiamat, que tinha forma de serpente, inicia o dilúvio para destruir a humanidade, restaurando o caos, e o Deus do bem o encerra, salvando os homens e o Cosmos (o mundo organizado). A adaptação de mitos politeístas semíticos ao mosaísmo de Javé implicou tornar Deus bom e mau ao mesmo tempo. Ele cria o homem (é bom), mas logo o expulsa do paraíso (é castigador) e, em seguida, decide destruir a humanidade com um dilúvio (é mau e destruidor). Dá-se conta de que Nascimento do catolicismose destruísse a humanidade de nada lhe valeria ser Deus, sem seres pensantes a lhe prestar homenagens notadamente os hebreus, já que se apresenta como o Deus de um povo só, os descendentes de Abrão que saiu da Caldeia (Iraque ao sul) nascido na cidade de Ur. O jeito — para os redatores da Torá — foi mostrá-lo arrependido duas vezes. Primeiro, cria o homem. Depois se arrepende de tê-lo feito: decide matar (dilúvio) toda a criação. Em seguida, arrepende-se de ter-se arrependido, e com Noé e sua mulher, após a matança, salva o futuro da raça humana e de uns tantos animais. Por fim, enfaticamente, promete que não voltará a ferir o homem, a saber:

“Não tornarei mais a amaldiçoar a Terra por causa do homem; […] nem tornarei mais a ferir todo vivente, como fiz.” (Gênesis, 8:21). Nessas passagens bíblicas, Deus age como um ser humano, sem controle da situação. À medida que os fatos acontecem, ele vai reagindo emocionalmente. Essa dubiedade estava presente no mito de Adão e Eva. Deus os avista cobrindo as genitálias, se encoleriza após interrogá-los e profere anátemas terríveis contra os personagens dessa primeira tragédia. Adão terá que suar para ganhar o pão. Eva vai parir filhos na dor, e Tiamat, a Deusa babilônica sob a forma de serpente, é transformada em uma simples cobra falante, será pisada por Eva e morderá seu calcanhar (Gênesis 3:7 – 21). Embora Javé agisse como um chefe castigador e vingativo, o Senhor dos Exércitos seguia sendo Deus dos hebreus e para os hebreus, até o aparecimento do cristianismo, na moldura de um Pai universal e amoroso.

O monoteísmo judaico era a religião de Israel, o cristianismo é religião para todos os povos, com seu amor fraterno, acolhendo todos os estrangeiros (gentios). Mas a Trindade mantém Javé como Pai, a pomba da paz como o Espírito Santo e Jesus, como filho de Deus.

O cristianismo estaria fadado a ser mais uma seita semita não fosse a desobediência de Paulo de Tarso, pregando para os estrangeiros, contra Tiago, irmão de Jesus e os apóstolos, seguido do oportunismo político do imperador romano Constantino. “Não vos encaminheis para os gentios, nem entreis nas cidades dos samaritanos; ide antes às ovelhas extraviadas da casa de Israel” (Mateus 10:5-6). Gentio era o estrangeiro ou aquele que não professava a religião judaica (Houaiss). A crença na trindade (três pessoas em um só Deus) não tem origem na Bíblia, mas no Concílio de Niceia, realizado no palácio de Constantino, na cidade de Bitínia, atual Iznik, na Turquia.

Ao perceber que o novo credo é conveniente à dominação das nações com seu “Deus Universal”, ele institui a tolerância religiosa, legitimando o cristianismo (Édito de Milão), e abre caminho para torná-lo — com Teodósio — a religião oficial do Estado. Constantino globalizou o cristianismo urbi et orbi. Enquanto os outros deuses eram divindades locais, ligadas a uma dada cultura, um Cristo universal serviria como Deus de todos os povos de seu império, para ser reverenciado por seus súditos, sendo ele o “cabeça” da nova religião. Duas sedes surgem: Roma e Constantinopla. Constantino foi, de fato, o primeiro “chefe” do cristianismo, o Sumo Pontífice, (papa). Promoveu o primeiro Concílio ecumênico (325 d.C.) e sob sua autoridade criou-se a fórmula do Deus-trino (credo de Niceia) como lei imperial.

Como seita originalmente judaica, era natural que adotasse os mitos do Velho Testamento como partes do cânon cristão (a Bíblia contendo o Velho e o Novo Testamento), deixando as inconsistências incólumes, inclusive a do anjo rebelado, origem do mal, inimigo da humanidade, resquício do politeísmo semita antigo.

O papado com sede em Roma tinha domínios, torna-se um Estado territorial, em vários lugares. Hoje, está restrito ao Vaticano. Contudo, não arrasta toda a cristandade. Os cristãos ortodoxos preferem patriarcas, na Grécia, na Armênia, em Constantinopla, na Rússia. E logo, virão outras divisões, serão os anglicanos e os “protestantes” em geral. O curioso de tudo isso é que a palavra católica significa universal.

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