Loucura ou má-fé?

Para o PT, o juiz Moro, que o Brasil admira, seria um farsante, enganador, o inimigo nº 1 do partido e, portanto, deve ser destruído

Para muitos indignados, a “cartilha do PT” é fruto da sandice, da loucura ou da ignorância sectária. Discordo radicalmente. É fruto, isso sim, da má-fé e do frio cálculo político de um bando de espertalhões, que faz da militância partidária meio de vida, usando o partido para acrisolar seus fanáticos seguidores, tipo torcida de futebol, e enganar os mais simples.

Mas o que expressa a tal cartilha, cujo objetivo é instruir a “militância” a responder, o que a imprensa e os “inimigos do partido” estão a dizer?

Sérgio Moro

Ao juiz Moro – a peça é bem articulada e maquiavelicamente escrita – são reservados os mais pesados adjetivos / Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado

Começa por fixar a tese esquizofrênica central de que estão “perseguindo o partido”. Quem? A imprensa comprada pela burguesia, o Ministério Público e a magistratura nacional, “inimigos jurados” do PT, o partido do povo humilde, do qual os ricos têm pavor. Noutras ocasiões, Lula, no papel idiota de defensor do povo, disse que as “madames” estão despeitadas porque as empregadas estão usando perfume e povo andando de avião, graças a ele e ao PT.

Fixada a premissa maior, a da perseguição ao PT, seguem-se as linhas de ataque, tachadas de “delirantes” pelo Ministério Público (no sentido de delírio ou conjunto de fantasias comum aos esquizoides).

Assim, o Ministério Público e a Operação Lava-Jato difundem mentiras para atacar as lideranças do PT, como se as provas e as denúncias constantes do processo fossem irreais, se limitassem ao PT e não se espraiassem por toda a base aliada. Ao contrário, o PT diz na cartilha que José Dirceu, Duque, o tesoureiro Vaccari e toda a camarilha desmascarada pelas investigações são inocentes, as provas plantadas ou ditadas por delatores caluniosos, que mentem para salvar a pele. A Operação Lava-Jato seria uma farsa. Essa mesma linha já foi vocalizada pela presidente Dilma, ao dizer que “detesta delatores” (ela própria, valorizando-se, disse que, quando presa, quiseram fazê-la “delatora” dos companheiros terroristas).

Ao juiz Moro – a peça é bem articulada e maquiavelicamente escrita – são reservados os mais pesados adjetivos. Seu objetivo maior é destruir o PT e, com ele, Lula. Portanto, não merece o juiz que o país admira a mais mínima credibilidade. É um farsante, enganador, o inimigo nº 1 do PT, que deve ser destruído. Faltaria a ele e aos membros do Ministério Público os requisitos constitucionais da “moralidade”, da “impessoalidade” e da “imparcialidade”. É dizer são imorais, perseguem deliberadamente o PT e seus sequazes e, portanto, são “parciais”, sem isenção para investigar, acusar e condenar.

Por outro lado, a crise econômica e social é cíclica, origina-se da crise mundial e por aí vai o lenga-lenga da cartilha, atribuindo – quanto cinismo – o desemprego ao ajuste do ministro Joaquim Levy, indicado pelos banqueiros, que o PT é contra ele e vai lutar por uma política de desenvolvimento em prol dos trabalhadores. Mas não explicita como!

O comitê central do PT não é como os dos outros partidos, que se reúnem de quando em vez, fica reunido permanentemente, mantidos os seus membros à moda dos partidos totalitários como os antigos comitês comunistas. Há vários departamentos, como o de agitação e propaganda. Foi esse departamento que fez a cartilha, depois revista pelo marqueteiro Santana, Rui Falcão, presidente do partido, e Lula, o chefe.

O objetivo – ninguém duvida – será alcançado. A militância fanática, tal qual a nazista, vai repetir monocordicamente os lugares-comuns da cartilha e segurar os 15% ou 20% de votos cativos do partido. O povão não lê jornais nem assiste política na TV. Contra o PT, não se pode esmorecer. Entretanto, até outubro de 2016, quando teremos eleições municipais, o cenário econômico será basicamente o mesmo de hoje, com um pouco mais de desemprego, não sei se de 9% ou 10% da população economicamente ativa. Até lá, a Operação Lava-Jato já terá aprofundado a broca no coração pulsante do PT. O resultado das eleições será um marco na história da nação.

Os partidos, como o nome indica, são “partes” do espectro político. Existem para representar as diferentes visões políticas das sociedades humanas. O PT, entretanto, nos causa preocupação por suas ligações com países, governos e partidos autoritários e antidemocráticos (Venezuela, Cuba, Equador e Bolívia, todos do “esquerdismo” sul-americano, o mais atrasado do mundo).

Mas a própria sociedade brasileira, tirante São Paulo, onde o PT vem sofrendo derrotas expressivas nas últimas eleições (estadual e federal), ainda não se definiu como democrática e liberal, exceto no Sul do país. É que o Congresso Nacional tem, necessariamente, que representar o povo. A política no Brasil começa nos bairros, nos municípios, nos estados e, finalmente, termina na União. No percurso, a representação se fragmenta. O PMDB, por exemplo, é uma confederação de políticos. A coincidência de todas as eleições seria mais politizante, partidariamente falando.

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