EUA, Europa e Brasil

No dia em que o mundo acordar com a diminuição dos EUA no PIB mundial a um quinto, a fé no dólar e no império econômico vai embora.

Países já construídos e industrialmente estruturados, nos quais a oferta e a demanda desdenham o chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial – palavra maldita –, que, no Brasil, determina a maior taxa de juros do mundo, seja a nominal ou a real. Aqui há o pavor da procura desencadear inflação e, por isso, acham os monetaristas que a política de aumentar os juros desestimula o consumo, forçando os produtores a diminuir os preços (equilíbrio). Jamais acreditei nisso aqui, em que se compra no crediário independentemente dos juros embutidos no preço e onde inexiste dinheiro sobrando para 80% da população poupar e investir, em vez de comprar. Nos Estados Unidos, Europa e Japão, já construídos, o que move a economia é o consumo – os juros estão perto do zero, nem assim cresce o consumo. Aqui, eles não obstam o consumo movido a crédito – é um anacronismo, um dogma.

China, Índia e Brasil crescerão porque são obrigados a construir quase tudo, desde o saneamento básico até as políticas de educação. Os mercados internos puxam esses países para a frente. Mas como o nosso governo e os outros Brics (Rússia, Índia e China) não têm dinheiro sobrando – exceto a China, com US$ 2,5 bilhões de reservas, sem dívida interna e externa e taxa de investimento de 35% do PIB –, o processo de privatização tem que ser acentuado, com menos impostos e agências reguladoras estáveis, ficando com os governos apenas as funções de Estado. É o contrário do projeto do PT, estatisante, sem ser como a China. Não é hora de criar estatais e endividar o Estado cada vez mais.

O que se não entende é a tola crença de que a Europa está errada em ter recessão, ao adotar a rigidez fiscal implicando nenhum crescimento por mais três anos, os cintos apertados, enquanto os EUA optam por gastos e maior endividamento para financiar seus déficits e gerar crescimento. Os EUA estão equivocados e, quando o mundo se der conta, vai ser um Deus nos acuda. Devo justificar a assertiva. O complexo militar-industrial insiste em manter 802 bases militares dispendiosas pelo mundo afora e duas guerras provocadoras de gastos governamentais. A indústria petrolífera e a sua substituição energética pregada pela administração Barack Obama, implicam igualmente despesas, embora criem empregos e novas tecnologias. O problema é que os EUA ainda importam mais do que exportam, embora suas empresas estejam por toda parte e são muitas (déficit comercial), assim como o governo, que gasta mais do que arrecada (déficit fiscal). Em consequência, praticam duas políticas: 1) emitem dólares contratando, a médio prazo, inflação doméstica; 2) emitem títulos do Tesouro para tamponar os déficits em troca de dinheiro alheio. Com fazer isso, a dívida pública já ultrapassou US$ 11 trilhões.

Economistas de renome acham que na virada de 2011 será de 100% do PIB. A Europa, notem, faz o contrário. Corta gastos e procura reduzir a dívida pública a 60% do PIB no máximo e o déficit fiscal a 3% do PIB, se tanto. E, para isso, aumentam impostos. No dia em que o mundo acordar com a diminuição dos EUA no PIB mundial a um quinto, a fé no dólar e no império econômico vai embora, restando apenas o arcabouço e a armadilha da potência militar belicosa e gastadora. Isso ocorrerá nos próximos cinco anos, se o curso da política econômica norte-americana não mudar drasticamente.

Enfim, são dois modelos, mas, tanto na Europa quanto nos EUA, os juros primários estão negativos, o consumo não cresce, os empregos rareiam e os preços estão estáveis, sob risco de deflação. Veremos quem tem razão. E nós, o que deveremos fazer quando somente a China, a Índia e o entorno asiático, exceto o Japão, crescem? Acabar com o Imposto sobre Produto Industrializados (IPI), que somente incide sobre a indústria, um contrasenso. Desonerar totalmente – o que não ocorre hoje – o investimento em produção e exportação; contingenciar o capital especulativo; diminuir, em vez de aumentar, os encargos trabalhistas que oneram a contratação e a mão de obra; retirar o Estado da economia; e atrair investimentos privados nacionais e estrangeiros para construir a infraestrutura são tarefas gigantescas e urgentes. Esse, sem dúvida, deve ser o divisor de águas entre o PSDB e o PT. E para terminar, voltar os olhos para a Ásia, a China em particular. Asiático será o século 21. O kaiser Guilherme da Prússia sempre teve razão. Disse que os amarelos trariam seus cavalos para o coração da Europa. Ora essa, cavalos não, uma manada feita de todas as coisas. Os europeístas do tempo da rainha Vitória jamais supuseram que as velhas civilizações da Ásia assumiriam novamente as melhores promessas do porvir.

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