Eles mudarão o mundo

Jovens e mulheres trarão à face da Terra, em sucessivos ciclones, igualdade, solidariedade, educação, liberdade e paz

Eles mudarão o mundo - jovens e mulheres

Foto: Sérgio Vale / Agência de Notícias do Acre

Não me tomem por ingênuo bardo. Trato aqui de prosa poética com um fundo de verdade. Concedo que multidões de jovens se perderão nos descaminhos da vida e por vezes se quedarão diante dos semideuses da tolice, da incerteza, do vício e da vaidade. Mas não tenho a mínima dúvida de que os jovens e as mulheres de nosso tempo, e os que estão por vir, mudarão a face da Terra em sucessivos ciclones de igualdade, solidariedade, educação, liberdade e paz. Os sonhos são proféticos, superando os juízos realistas. Um rabino sábio, amigo meu, disse-me que as meninas já nascem mães e os homens morrem bebês. Eles estarão em toda parte, como o sal da terra. Com incrível tenacidade varrerão em todas as sociedades os preconceitos de diversificadas ordens, inclusive sexuais, trazendo-nos uma espiritualidade sem igrejas e dogmas, como jamais se viu na Terra-Mãe. Quem teme o relativismo deve se cuidar, desaparecerão os absolutismos, os nexos da dominação. A mulher traz em si o fruto da maternidade, seus sentimentos são avessos à violência, à guerra, aos conceitos e preconceitos. Os jovens, após a fase egoica da infância são os cavaleiros da igualdade. As mulheres farão reviver o tempo das fertilidades que precedeu as civilizações masculinas do neolítico há 12 mil anos.

Serão eles, as mulheres e os jovens, que vão derrocar a teocracia dos aiatolás na Pérsia, ventilar as janelas de Moscou e São Petersburgo, restaurar os finos desenhos espirituais da China imemorial, jamais permitirão que a Turquia laica volte a deslizar de volta ao sectarismo islâmico, um belo dia farão a Síria ressurgir das cinzas da tirania e soprar tempestades sobre os desertos patriarcais das arábias. Serão eles, fatigados de séculos de orgulho, que irão restaurar a primitiva simplicidade da América do Norte, tornar o Brasil a grande pátria da igualdade e resgatar os fortes e sofridos irmãos da África dos terrores da descolonização. Os pombos farão seus ninhos nos telhados do Vaticano entre górgones e estátuas vãs. Afirmarão aos quatro ventos que todos os homens nasceram iguais em direitos e oportunidades e que as sociedades podem ser igualitárias sem necessidade de opressão. Judeus e palestinos, quem diria, esquecerão aqueles tempos de separação.

Nada de mais nisso, hoje não vemos com espanto como viviam nossos bárbaros ancestrais há 18 mil anos? Não nos parecem hoje irreais a pestilência, o fedor corpóreo e moral da chamada Idade Média? Não foi depois dela a eclosão da Renascença?

O devir não para. Poucos se dão ao trabalho de imaginar o porvir dos homens sobre a Terra. Miram, apenas, como serão as cidades, os avanços da tecnologia em todos os níveis, fazem previsões, acham imutáveis valores, crenças, igrejas, religiões, formas de Estado e estilos de governança, quando não estão ocupados em prever improváveis apocalipses como imaginados pelas mentes do fanatismo e da obsessão. Não será o paraíso, apenas um mundo melhor. Hoje é só desesperança, medo, violência e alienação. Todavia os tempos obscuros passarão.

Freud disse, com razão, antevendo o choque entre os instintos e a razão social (o id, o ego e o superego), que educar é necessário, que civilizar é reprimir e que a instrução ao fim, é repressão, sem a qual seria impossível a civilização. Os teóricos do direito, céticos até mais não poder, reafirmam a perenidade da polícia, do juiz e da punição. Os psicanalistas, a viverem de espiar ,os instintos e os quereres contrariados dos seres humanos, acreditam na perenidade – contra a teoria da evolução psíquica e emocional – do conflito entre o desejo do sujeito e sua supressão ou recalque! Acham, porque o essencial é invisível aos olhos (nos disse o Pequeno Príncipe), que essa etapa da civilização se repetirá indefinidamente. Não, os jovens e as mulheres mudarão a face de Gaia. Aliás já começaram a fazê-lo, estão a rodar filmes, livros, frases e revoluções, nas praças e esquinas do mundo, em todas as latitudes. Muitas coisas boas virão de suas aspirações.

Como disse o poeta, os grandes rios em seus começos não passam de simples riachos. Hoje vemos apenas os olhos d’água, mas brotam em muitos lugares. Água nova, pura e cristalina. A Terra está renascendo! E a última vítima da violência mal acabou de ser sepultada.

Morgan, antropólogo americano que procedeu ao maior inquérito sobre o avanço do homem sobre a Terra nos últimos 150 mil anos, desde quando disputavam com as feras a alimentação diária, dividiu a nossa evolução em três etapas a selvageria com três períodos, a barbárie com três períodos e a civilização, iniciada há 13 mil anos. Estamos, digo eu, na primeira etapa da civilização. Olhem bem o dia nascer e seu belo arrebol, são os prenúncios da segunda etapa da civilização.

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