As eleições republicanas

Na América, tudo pode ocorrer, exceto uma ditatura. Ante o perigo de um novo Nero a incendiar o mundo, melhor que Obama ganhe.

Os americanos estão a pé em matéria de candidatos republicanos à presidência da superpotência militar, política e econômica. Fragilizada economicamente e odiada mundo afora, a América bem pode fomentar um mix explosivo suficientemente forte para danar a civilização, se um conservador radical apossar-se da curul presidencial. Bem podemos ver um Nero fanático botando fogo no mundo. Na América, tudo pode ocorrer. Vários pretendentes exóticos já ficaram pelo caminho. Um disse que ia fechar três agências governamentais, mas só sabia o nome de duas (Rick Perry). As maluquices saudosistas e relentadas do “Tea Party” tornaram-se cansativamente ultrapassadas. O Partido do Chá esfriou e com ele duas supostas candidatas, Michele Bachmann e não sei quem mais.

Santorum, um católico papista fervoroso, não tem vez num país de antipapistas e padres pedófilos. Herman Cain, afro-americano, parecia lunático e os republicanos racistas nele não votariam. O divertido e interessante Ron Paul, um senhor simpático, quer simplesmente acabar com o Banco Central e fechar todas as bases militares sob o argumento de que o país está falido. A dívida pública, diz ele, supera o PIB em US$ 1 bilhão. Os EUA gastam mais do que arrecadam e importam mais do que exportam. Até que faz sentido. Por isso mesmo não tem futuro. Quem sobrou? Um tal Newt Gingrich – o “boca do inferno” – que tem o egoico hábito de dispensar esposas, especialmente se têm câncer, além de adepto do casamento aberto. Acusa o favorito e rival, Mitt Romney, de ser dono de uma private equity, um pirata que vive de abordar empresas em dificuldades, adquiri-las por bem ou por mal, recuperá-las e vendê-las com bons lucros.

É prática antiga nos EUA e já mereceu vários filmes o papel dessas corporações no acirrado e aético capitalismo norte-americano. Uns dizem que são como abutres a procurar carniças econômicas e roê-las até os ossos. A coisa chegou ao auge quando a tradicional Nabisco foi atacada sem dó nem piedade, o que gerou o raivoso livro, pretensamente moralista, Bárbaros à porta (Barbarian at the gate). Para outros, as private equity são os limpa-trilhos dos fracassados, um antídoto capitalista de mercado que restaura a competição entre os mais aptos. Ora, Mitt Romney é, precisamente, um ás bilhardário de uma private equity (a Bain Capital). Depois disso, Gingrich o acusa de ter estudado em Harvard e falar francês. Segundo prestigiosa revista, o bilinguismo e a racionalidade profunda das grandes universidades americanas, o que de melhor o país tem, para os republicanos de classe média e os “red necks” (matutos do meio-oeste) são defeitos terríveis.

Por essas e outras os eleitores da Inglaterra, França e principalmente os nórdicos acham a democracia americana bizarra. Até mesmo as primárias são uma esquisitice, porque não envolvem o povo e somente os partidários em dia com os seus pagamentos. Não passam de sondagens e uma oportunidade para destruir biografias. Parecem operetas bufas.

Na história recente dos EUA, desponta imbatível o grande estadista paralítico Franklin Delano Roosevelt. Na esteira de seus quatro mandatos sucessivos ele mudou os EUA, o mundo e até o direito político consuetudinário. Cada presidente agora só tem direito a uma reeleição. À sombra dele cresceram também os presidentes democratas (Kennedy, Carter, Clinton, Obama), todos simpáticos, menos Lyndon Johnson. Não se pode dizer que os conservadores presidentes republicanos – nem sei mesmo o que, além de orgulho e guerra, eles conservam – Nixon e a família Bush foram presidentes com empatia mundial, exceto o canastrão Reagan, que até foi vítima de atentado, para avivar a tradição lá existente de matar presidentes. Seria o quarto ou quinto?

Mas verdade seja dita: desde a revolução americana contra a pérfida Albion e sua notavelmente sintética Constituição, jamais houve lá um ditador (em que pesem os McCarthy e os Hoover). Nenhum país com a idade da América do Norte praticou tamanha façanha: a de uma democracia sem rupturas. Mitt Romney é mórmon, outra excentricidade do cristianismo evangélico e judaizado dos EUA. Ele acredita que o anjo Morôni (será de ascendência italiana?) apareceu nos EUA com novas revelações, gerando uma nova fé adaptada aos tempos modernos (inicialmente, pregou a poligamia, em desuso, tal qual foram os patriarcas semitas, árabes e judeus).

Com tais características e riquíssimo, vencerá Obama e ganhará as eleições? Nos EUA, tudo pode acontecer, tudo menos uma ditadura. Mesmo assim, é preferível um mórmon do que um republicano branco, protestante, rico, de olhos azuis, porém belicista, a criar tensões e guerras mundo afora. Mas Obama ganhará numa boa!

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