Agora seria a hora

Cumpre à diplomacia brasileira atuar no Oriente Médio, longe de afagos a tiranos como Mahmud Armadinejad, presidente do Irã.

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Levantar as bandeiras da democracia política, da intolerância às ditaduras, sejam teocráticas ou oligárquicas, e do regime econômico da livre iniciativa daria agora ao Brasil visibilidade e confiança, não só no mundo árabe – e aqui vivem pelo menos 10 milhões de descendentes de sírios, libaneses e jordanianos –, mas no mundo cristão e islâmico em geral. Poucos países detêm a posição do Brasil na atualidade. A Rússia tem três séculos de confronto com o Império Otomano (Turquia), que no século 19 representava toda a região, incluindo a Pérsia e o Egito. A China não tem desenvoltura, pois depende do petróleo da península arábica e do Irã, melhor ficar calada. Da Europa, falemos da França e da Inglaterra e da Itália (Líbia), que são potências colonialistas que exercitaram dominação política e exploração econômica sobre o mundo islâmico após o espatifamento progressivo do Império Otomano e ergueram enclaves contrários ao povo: pequenos principados como Omã, Kuwait, Bahrein, Catar, Dubai etc., encharcados de petróleo e, portanto, coniventes com as empresas ocidentais. Juntamente com as intrigas políticas, esses minúsculos principados evitaram um Estado grande e rico reunindo as multidões árabes, incluindo turcos e persas. Os europeus são totalmente malvistos pela oposição à grande nação árabe, prevista no panarabismo, embora tal sonho fosse utópico em razão de rivalidades entre eles próprios.

Os Estados Unidos são odiados na região pelos arranjos antidemocráticos que patrocinaram especialmente depois da Segunda Guerra Mundial. Guiados por seus interesses petrolíferos e estratégicos contra a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), além do medo do radicalismo islâmico, a ponto de levantarem a tese do conflito de civilizações, os norte-americanos nunca se deram ao trabalho de pensar e entender o Oriente Médio. Sua diplomacia e ações concretas sempre foram equivocadas para um povo tão rico e necessitado de política internacional, a ponto de impor-se apenas pelo poderio militar e alianças espúrias com ditadores e monarquias corruptas, como é o caso do apoio ao presidente do Egito, Hosni Mubarak, político e financeiro.

Os norte-americanos e seu imperialismo na primeira fase, a do expansionismo territorial, deram-se bem. Adotaram duas táticas: a da anexação de terras por invasão não apenas contra os índios e franceses no continente mas alhures, caso do Havaí, e conflitos contra a Espanha, enfraquecida no Caribe, e o México, dilacerado por conflitos internos. Inventaram, por assim dizer, guerras para tomarem, entre outras terras, o Texas, o Arizona, o Novo México e a Califórnia dos mexicanos. Anexaram a Flórida da Espanha. A outra tática foi a de “compra de territórios” de países em dificuldades financeiras, a França vendeu-lhes a Louisiana, a Rússia (tsarista) vendeu o Alasca. Depois da Segunda Guerra, viraram potência. Longe de propagar a liberdade econômica e o regime democrático de governo, deram-se a políticas desvestidas de valores, voltados ao dinheiro. Quem não se lembra das ditaduras latino-americanas durante a Guerra Fria apoiadas pelos EUA, em plena segunda metade do século 20? A segunda etapa, esta do expansionismo econômico e militar, não tem gerado simpatias, em que pese “o sonho norte-americano” de ficar rico que seduziu o mundo inteiro ora em crise.

Voltando ao Oriente Médio ou Próximo, é de se dizer que o mando norte-americano se perfez pelo entranhamento econômico global e pelas “alianças convenientes”, pouco importando os valores caros a sua civilização, fundada em crenças libertárias e na dignidade da pessoa humana. Nada justifica – nem mesmo o medo da Irmandade Muçulmana, fundada em 1928 – subsidiar um tirano corrupto, ineficiente e opressor como Mubarak. Inexistem forças progressistas no Egito? El Baradei é um fundamentalista? E os jovens com seus ideais seculares? Por acaso a Turquia, em franco processo de crescimento econômico e social, onde vige a separação entre o Estado e a religião, não nos convence que o islã é compatível com a democracia? A Turquia faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Cumpre à diplomacia brasileira atuar no Oriente Médio, longe de afagos a tiranos como Mahmud Armadinejad, com as crenças de nossa Constituição: “Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Cabe ao Brasil ser sincero. Opinar pelo Estado laico (como o da Turquia) como solução para evitar tiranias teocráticas ou apoio a tiranias laicas. Noutras palavras, democracia”.

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