À beira do caos

O buraco é tão grande que o ajuste fiscal do ministro Levy não resolve nem 5% dos nossos problemas de desajuste.

Um homem solitário com o seu blog, suas pesquisas e sua seriedade, parece ser o único a deter a visão completa e macabra do nosso país, imerso em crescente desorganização econômica, social, psicológica e política. Se a ordem é considerada o contrário do caos, certo é afirmar que o nosso país caminha para lá. O tamanho do buraco é tão grande que o ajuste fiscal do ministro Levy não resolve nem 5% dos nossos problemas de desajuste entre receitas e despesas, entre créditos a receber e despesas a pagar. O nome do homem é o economista Mansueto Almeida, o melhor analista brasileiro de contas públicas. Quem quiser consultá-lo que o faça.

O Brasil gasta muito mais do que arrecada (37% do PIB). E gasta mal, sem eficiência. A dívida pública logo chegará a 75% do PIB com vencimentos rápidos (de seis meses a seis anos), a girar a taxas absurdas, caminhando para 15%, segundo afirma o Banco Central, sem que a inflação ceda (que não é de demanda, mas de custos em geral: carga previdenciária, juros da dívida do capital de giro, atraso nas prestações, inadimplência, impostos escorchantes e obrigações trabalhistas em excesso, estoques encalhados, aluguéis caros, etc). Se a inflação não cai os preços a seguem, junto com os salários, indexação informal, gerando velocidade na espiral inflacionária.

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O Brasil gasta muito mais do que arrecada. E gasta mal, sem eficiência. A dívida pública logo chegará a 75% do PIB com vencimentos rápidos, a girar a taxas absurdas, caminhando para 15%. / Foto por Edilson Rodrigues

As políticas monetariamente expansionistas (gasto público exagerado a fundo perdido e crédito para o consumo) para “distribuir a renda”, com aumentos generosos do salário mínimo, acima da produtividade do trabalho, deram errado. Nos três países do socialismo do século 21: Venezuela, Argentina e Brasil (Equador, Bolívia e Nicarágua são pequenos como Sergipe e se aguentam com pouca gente e recursos minerais de exportação).

A Venezuela está prestes a cair em estado de anarquia e guerra civil. A Argentina debate-se com uma inflação que se aproxima de 80% ao ano (acima de 100% já é hiperinflação) e fuga de capitais. O Brasil tende a ir pelo mesmo caminho, pois estruturalmente as políticas são do mesmo receituário, o populista.

A vantagem do Brasil é ter uma indústria mais diversificada, um agronegócio portentoso, o segundo maior do mundo, atrás dos EUA, seguido pelo Canadá, além de ser potência mineral, competindo com a Austrália, o Canadá e a Rússia por mérito exclusivo do setor privado, bastando dizer que o governo arrasou a Petrobras, a 5ª maior petroleira do mundo. E, o que é mais importante, a inflação está girando a 9% ao ano. Há tempo, embora pouco, para nos salvar!

Mas como sair do buraco se ninguém mais acredita no governo? (Dilma tem 7% de aprovação no ABCD paulista e 8% no Sul e Sudeste.) O PT está em todos os escândalos, sem exagero de oratória.

A confiança do resto do mundo também é zero. Logo nossa nota (rating) será rebaixada. A ineficiência do governo é total e o ajuste fiscal um risível fracasso. É nessas horas que a minha crença parlamentarista cresce. Bastaria trocar o primeiro-ministro, o Congresso negar-lhe um voto de confiança, com a consequente formação de um novo governo, para as coisas começarem a mudar, como um raio no céu. Não há nada de errado com o Brasil – descontando-se a deseducação maciça do seu povo, apesar de ser trabalhador e empreendedor.

O Brasil precisa de uns US$ 100 bilhões para pôr suas contas em dia (o jeito é sacar da reserva de R$ 360 bilhões), só gastar o que arrecada, diminuir o Estado, atraindo os empreendedores nacionais e internacionais. Será um novo começo. Com esse governo isso é impossível! O colunista Antônio Machado, no Estado de Minas prescreve: “Está evidente que o governo não tem mais autoridade para conduzir a economia sem o setor privado, e que o ativismo constitucional do Congresso é muito bem-vindo, mas limitado ao que lhe compete, como a reforma da governança das estatais e das agências regulatórias. Questões como o desmonte do mostrengo elétrico, uma abordagem nova dos benefícios sociais, o ataque ao patrimonialismo e a denúncia dos subsídios é o que o ministro Levy pretende desbastar. É uma agenda positiva, se vier acompanhada de um amplo programa de eficiência do governo, do enfrentamento das causas da inflação e dos juros altos, assim como do déficit da Previdência, mais a admissão de que o desenvolvimento se faz com empresários, não com burocracias e ideologia de antanho. Contaminada pela apuração da corrupção na Petrobras, a luta atual é política, mas é, sobretudo, contra a inação resultante do colapso do Estado dirigista, filantrópico e alheio à produção, portanto, ao emprego e à verdadeira justiça social. O enigma é saber como se vai sair desse enrosco. Com a economia estagnada é que não será… A renúncia ou o impeachment é o que nos resta.

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